segunda-feira, 13 de abril de 2015

O Universo no Olhar, 2014




Se tem uma coisa que eu admiro em qualquer área da vida é a paixão/entrega.  Acho que são justamente esses fatores que separam os meninos dos homens, ou melhor, nobres dos bárbaros. Quanto ao cinema, mantenho minha postura, aprecio a ânsia por realizar que seletos diretores têm. Mike Cahill, um jovem de 35 anos, é mais um dos nomes que vão direto para essa gaveta especial do meu coração. Começou a realizar documentários aos 17 anos. Conheceu Brit Marling em um evento de cinema, começaram uma intensa amizade e, posteriormente, a mesma o ajudou na realização do documentário “Boxers and Ballerinas”. Mais tarde realizariam juntos novamente, “A Outra Terra”, filme de grande impacto em Sundance e tão somente nessa premiação, pessoalmente eu o considero digno de qualquer premio que exista na terra. Cahill é fã assumido do diretor polonês Krzysztof Kieslowski, percebe-se algumas semelhanças em seu, até então, curto trabalho.
Brit Marling, por outro lado, vem fazendo sua carreira em base a dois diretores: Mike Cahill e Zal Batmanglij, outro jovem diretor, filho de iranianos. Aliás, os três são muito amigos. Marling está se consolidando com a musa do cinema norte americano independente, apresentando exímias performances, sustentado em uma doçura provocante.

A nova obra de arte da dupla Cahill e Marling se chama “I Origins” ou “O Universo no Olhar”, nesse, diferentemente do primeiro, Marling não assina o roteiro, faz uma ponta apenas, mas com uma personagem extremamente impactante e de importância gigantesca para a trama. O filme fala sobre reencontros, não interessa a sinopse, muito menos personagens. Se você, caro leitor, quer um motivo para se interessar em assistir, vou simplificar resumindo que eu amo cinema pois tenho consciência que aparecerá, uma hora ou outra, milagres como esse filme, que me deixam boquiaberto, chorando, refletindo, amando. Quando encontro filmes assim, eu amo o fato de ser cinéfilo, de me permitir injetar essa droga chamada cinema.

O filme começa com uma narração em off, o protagonista Dr. Ian Gray, interpretado brilhantemente pelo Michael Pitt – que no início do filme lembra muito o Johnny Depp – afirma que cada olho é um universo inteiro de diferenças. Engraçado, desde esse momento, com a inserção de fotos de olhos diversos, eu fui fisgado e automaticamente entendi o recado e me preparei para o que viria a seguir, eu escrevi e refleti muitas vezes sobre o olhar, por sinal é motivo de muito interesse da minha parte, tudo que mais amo nessa vida acontece através dos olhos. Cinema e fotografia, inteiramente magias, a segunda, inclusive, fora criada a partir do “modelo dos olhos”, por assim dizer, a máquina fotográfica é um olho que registra, com a ajuda da luz. Seria então, também, uma janela da alma, como o filme define ao longo? Aliás, o cinema poderia, então, ser classificado dessa forma, uma belíssima janela que vai de encontro a alma, ou melhor, almas. O filme fala de reencarnação, mas não importa se você, espectador, acredita ou não, pois o que vale é a ideia da volta, e a segunda chance está repleta de amor, a morte é muito pouco para um coração cheio de esperanças. Eu vejo a morte como o fim, para, enfim, o começo. Alguns vêem esse começo como uma vida eterna, eu o entendo como outras vidas com lembranças. Pois é isso que o homem faz, ele cria e imagina o mundo ao seu gosto, para o ausentar da realidade de viver só, uma história de amor não é apenas mais uma. É novamente.

Eu perdi as contas de quantas vezes me relacionei com alguém e coloquei essa pessoa a um andar acima do meu, exaltando o meu gostar. Sem perceber que, afinal, poderia ser só algo comum. Mas eu inventei história, não necessariamente propaguei isso a todos, mas na minha cabeça tínhamos algo poderoso e desconhecido, algo que nos conectava. Será que eu me adiantei no tempo? Será que estou em busca e, pelo mesmo motivo, levantei falsas expectativas com pessoas que não mereciam a minha devoção? Não sei o motivo, mas sempre precisei acreditar em amor que se reencontra. Amores ligados desde o átomo, como o Dr. Gray coloca em dado momento para sua amada.

Dr. Gray se apaixona por um par de olhos. Também conhecida como Sofi. Ela aparece, pela primeira vez, no alto de um apartamento, perto das estrelas, com os olhos vidrados, diretos para a lua. Ela cobre o rosto com um gorro, sem muita explicação. Dr. Gray pede para tirar foto dos seus olhos, algo que ele sempre fazia. Ela permite e constrói-se uma relação esquisita. Eles já se conhecem? Essa é a pergunta do espectador, pois as palavras são moldadas com uma naturalidade quase que amigável. Eles vão ao banheiro, transar, e ele pergunta carinhosamente se ela não se arrependerá do que está fazendo no dia seguinte. Ela foge e ele não sabe mais como encontrá-la.

Ele a encontra novamente. Junto a isso temos a aparição de outra personagem, uma estagiária, interpretada pela Marling. Sofi é a imaturidade de crer no espiritual, enquanto Karen, a estagiária, soa como o seu par perfeito. Extremamente lógica e, teoricamente, braço direito no quesito racionalidade. Mas ele tem Sofi como amor, sem um motivo aparente, essa é a verdade. Sofi vive dizendo aos ventos que os dois são casados no mundo espiritual, o marido, por sua vez, enxerga sua parceira com uma certa profundidade, como descrevi acima, ele afirma que ambos, no Big Bang, foram átomos que se encontraram e se encontraram e se encontraram... infinitamente.

Um homem da ciência e uma mulher da fé. Um cientista fascinados por olhos e um olhar. Esse filme é tão poético quanto inexplicável. Assisti com minha irmã e a todo momento eu ficava falando que estava me sentindo meio sufocado, parece que todas as cenas acontecia alguma coisa ou era dito alguma coisa da qual eu me identificava profundamente. Não sei explicar, mas tamanha sensibilidade doeu em mim. Fiquei estarrecido. Fiquei submerso. Chorei muito. Ri. Me apaixonei. Me reencontrei. Parece que me tornei menos louco, por perceber que o cinema conversou comigo sobre esse tema tão provocante, cuja desatenção das pessoas fazia com que eu me sentisse um esquizofrênico. O cinema me pegou pela mão e me mostrou que não, não estou louco. Me mostrou que há possibilidades de nada ser por acaso. Que há possibilidades de existir um universo, dentro de um olhar.

Repleto de significados, como a porta que deveríamos abrir pra seguir adiante e não apenas ficar trancado dentro da mesma possibilidade, o elevador como um canalizador de lembranças de vida e acontecimentos passados, a procura desenfreada e, consecutivamente, o amor sufocado. Não pela morte, pois estamos sujeitos a ela. Mas sim a falta de fé. Talvez a morte do homem moderno seja saber muito e sentir pouco. Dados e estatísticas não são nada, além de superficialidades passageiras. Uma hora ou outra percebemos que nossa vida está na Índia, personificada em uma criança de olhos claros, com muita fome e perdida. Em algum momento das nossas vidas, percebemos que nós, sim nós, somos essa criança abandonada pelo tempo.

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