sábado, 25 de abril de 2015

Gojitmal, 1999


Gojitmal que, em inglês, foi traduzido como “Lies”, ou seja, “Mentiras” é estranho, assim como a sua tradução. Estranho pois fiquei imaginando o motivo do título, seria uma irônia? Talvez, em qualquer situação poderia se tornar banal esse questionamento, mas aqui se faz necessário, ao terminar de assistir, tive a ligeira impressão de que o diretor, Jang Sun Woo, poderia ter extraído bem mais dessa história.

Não posso negar, aliás, que o início do filme é um primor, mesmo com uma filmagem que apresenta um certo desequilíbrio, senti como se fosse um voyeur, seguindo aqueles personagens comuns a caminho de suas próprias descobertas. Em muitos momentos a câmera se esconde atrás da parede, como se estivesse espionando o sexo, as pronúncias envoltas de muita excitação. Enfim, como disse, “Lies” me ganhou nesse início onde temos, representativamente, um diretor de cinema apresentando a ideia do próprio filme que virá a seguir, nas palavras dele a obra fala sobre possessão, o que me parece deveras interessante, temos dois personagens centrais que possuem um ao outro mas não se possuem, ou seja, vazios, não há identificação por eles, os mesmo não passam de almas penadas enquanto sozinhos, parece que voltam a vida quando estão, de alguma maneira, relacionados ao sexo. E bota sexo nisso, há em todos os momentos cenas picantes, sendo, inclusive, banido na Coréia do Sul em 1999.


A certeza que fica no início é realmente essas, o filme fugirá dos padrões, parecerá com um documentário e, ao longo, será inserido uma espécie de Making-of. Tentarei explicar, antes dos créditos iniciais o diretor fala para alguém – espectador – sobre o que trata o filme, vem os créditos e depois somos apresentados a personagem Y, uma menina de 18 anos que está indo encontrar um cara que ela fez sexo por telefone, depois corta e temos a atriz que interpreta Y falando, nos bastidores da entrevista para entrar no elenco, que se estava se sentindo um pouco desconfortável por estar fazendo um filme que apareceria bastante tempo nua. Bem, é uma loucura, mas genial. Não me lembro de outro filme utilizando esse artifício, para mim foi uma novidade maravilhosa.

Y encontra J, ela uma menina de 18 anos e ele um homem de 38, sua mulher está em viagem e ele conhece Y no telefone, fica claro que ambos já se excitaram um com o outro, por meio da voz. Ela até fala que não teria como não aceitar encontrá-lo pois tinha ficado molhada apenas ao ouvi-lo. Bem, eles vão para um quarto de motel – durante uma hora e quarenta minutos, vinte minutos é de filmagens externas e uma hora e vinte é tudo dentro de quartos – e lá se conhecem visualmente, cada detalhe, a calcinha, o pênis, o cheiro da axila (?) enfim, é de se admirar(estranhar) a naturalidade que eles agem no primeiro encontro, ou esse seria simplesmente uma consequência da afinidade adquirida por telefone, ou seja, sem o toque. Ele narra suas ações, fala do corpo dela, pergunta se sabe o que está fazendo, avisa o momento de penetrá-la, enfim, alguns exageros mesmo, até que esses encontros vão tomando outras consequências, ele começa a levar uma mala com chicotes, varas, madeiras e, juntos, aderem o espancamento no bumbum, também conhecido como sadomasoquismo.

Em tempos de “50 Tons de Cinza”, Lies é uma bela contradição, filme Sul Coreano, meio perdidinho, difícil de digerir, enfim, poderia ser muito mais bem elaborado, infelizmente acaba se perdendo na mesmice, pois da metade para frente é só bunda erguida para levar palmada, os dois protagonistas – ou seria apenas um? - chegam ao cúmulo de sair pelas ruas procurando pedaços de madeira e outras coisas para bater e apanhar, grotesco mesmo é quando eles passam do lado de uns pedreiros e a Y dá uma observada em um martelo, imaginei um letreiro de pensamento em baixo assim: “com isso eu faria estrago”.
Bem, tirando a babaquice, tem uma coisa que achei muito interessante, é feito uma analogia do ato de apanhar com as lembranças de quando criança, J afirma que, enquanto apanha, é como se transportasse para sua infância, enquanto Y coloca, logo após, que sente como sua mãe, se não bastasse, ela curando dos ferimentos representa um amor maternal mesmo, só que nesse caso ela mesma fez isso com ele com uma vara... pensando bem, as mamães também batem nos seus filhos e, logo após, cuidam dos ferimentos, seriam as mamães as primeiras a depositar a ideia do prazer em apanhar nas pessoas? Fica ai esse insano questionamento.

Não poderia deixar de citar uma frase, ainda no primeiro encontro deles, onde J fica lambuzando o cu da pequena ninfeta, avisando-a que irá penetrá-la, ele então solta um “imagine meu pau como merda”. É para dar risada, se caso não tivesse um mínimo de sentido. Mas, espera um pouco, quem fala isso para o parceiro? Será que o sadomasoquismo, então, começa com o próprio diálogo?

Eles passam por diversos motéis, todos eles funcionam como um ninho de amor e interpretação de quem são e, principalmente, o que gostam. Em dado momento Y coloca, expressivamente, que queria cortar o pau do seu amante e guardar. Então deve ser isso, um enorme carinho em possuir, confirmando o que o tal diretor disse lá no início, apesar de improvável, o filme realmente fala de possessões, introduções, seja na vagina, no cu, na mente ou no nariz. O que importa é ter para si o corpo de alguém e, fazer desse alguém o seu destruidor, construindo dores.

Quanto ao título do filme, que me interroguei no início:

“ minha esposa viu o "meu amor" tatuado na minha coxa, me perguntou o que significava aquilo. Então eu comecei a mentir.”


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