sexta-feira, 13 de março de 2015

Tempo de Embebedar Cavalos, 2000


Já falei quantas vezes que o cinema que mais gosto do mundo é o Iraniano? Enfim, afirmo novamente e você, meu caro, que ainda não assistiu nada desse país, tome vergonha na cara e corre, mas corre, aproveita que está fácil, tem muita coisa no Youtube, inclusive esse que comento hoje, certamente será uma das maiores experiências cinematográficas que você terá na vida.

"Tempo de Embebedar Cavalos", lançado em 2000, segue a linha de vários iranianos, onde a criança será reflexo das situações horrorosas onde todos, sem exceção, são usados. As crianças são os veículos ideais pois, como é possível imaginar, representa a inocência, o novo, diante a situações de mudanças. Dessa vez, nossos corações segue a história de cinco irmãos órfãos, destaque para Ayoub e  Ameneh que, além de trabalhar para pagar a dívida de uma mula, ainda precisam se preocupar em juntar dinheiro para a operação do irmão mais novo, Madi, que sofre uma grave doença.

Madi é deficiente, evidentemente se torna um problema para uma família sem condições, mesmo assim, o amor que recebe, cuidado e carinho, é de chorar os 80 minutos de filme. Lembrando que o cinema Iraniano tem crianças que não são atores, na sua maioria, então a verdade das expressões provocam questionamentos, não entendo como é possível. Mais da metade dos mirins de Hollywood não chega aos pés do que essas crianças fazem. A irmã Ameneh demonstra tanto carinho, todo momento beija o irmãozinho, protege o irmão mais velho, que assumiu o posto de líder depois da morte do pai, em dado momento ela olha para o alto e pede que Deus ajude o irmão com problemas de saúde. A criança olha para o céu também, junto com ela, um silêncio, uma dor aterrorizante. Tão cruel, um ensaio sobre o real. A dor é tão real, inclusive, que as cenas em que o pequeno toma injeção e chora, quando está congelando no frio ou sendo arrastado por mulas, enquanto fica preso em uma "sacola", são uma mescla de realidade e, também, tortura. O quão ético é registrar o sofrimento com o sofrimento? Enfim, é um bom exercício esses filmes, pois eles tem como proposta primordial a exibição do que acontece. Ninguém pode julgar acontecimentos. É preciso estar despido para, só então, conseguir embarcar na nova cultura.

Por sinal, esse filme se passa em um lugar diferente do Irã, localizando-se na divisa com o Iraque, o que terá uma importância na trama, visto que Ayoub faz parte dos contrabandistas, que se submetem a vários perigos de vida. A paisagem está congelada, o branco da neve, o frio, apoia a ideia de sofrimento. O trabalho pesado, o pesado sendo carregado nas costas infantis, são reflexões que terminam nas cenas finais, onde as mulas são pisoteadas, é tão doloroso vê-las carregando aqueles pneus enormes, caindo na neve, apanhando, que entramos em estado de choque, aquelas mulas são as crianças e vice-versa. O desespero é um só. Não existe idade para esse tipo de coisa. 

Primeiro filme do diretor Bahman Ghobadi, que vem fazendo grande sucesso em festivais de cinema. Além de ser ótimo, parece ser um ótimo e sensível ser humano. É preciso muita passionalidade para realizar obras incríveis como ele. 

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