domingo, 31 de agosto de 2014

#09 - Assisti na semana

Blackfish - Fúria Animal, 2013




O longa conta a história de Tilikum, a principal baleia orca do parque temático SeaWorld, em Orlando, Estados Unidos, responsável pela morte de três pessoas. Imagens fortes e entrevistas emocionantes compõem o painel e ajudam a entender o comportamento da espécie, o tratamento cruel no cativeiro, além de recuperar as trajetórias e mortes dos treinadores, pilares de uma indústria multibilionária. O filme convida o espectador a repensar nossa relação com a natureza e explicita o quão pouco os humanos estão dispostos a aprender com esses mamíferos.

Confesso que, dentre todos os gêneros, o que eu mais tenho uma queda é o documentário. Pensando bem, eu procuro o documental  até mesmo nos filmes de ficção, ora, busco muito a realidade, então nada mais justo que classificar os documentários como sendo "a captura mais pura da vida.", audiovisualmente falando.

Aprecio a quantidade de informação que pode ser extraída sobre apenas um único tema que, muitas vezes, nem mesmo reparamos/paramos para pensar sobre. É o caso desse "Blackfish", que aborda as baleias assassinas, mesmo que o assassino revelado ao longo seja o próprio homem e o seu infindável ego.

O carinho e sentimento daqueles que cuidavam das baleias, seus treinadores, é contagiante. Como pode nós, seres humanos, termos tamanha sinceridade para com monstros, seria identificação (?) Ainda mais, o documentário nos coloca na posição de formigas, pessoas que na entendem dos seus escravos - no caso as baleias. Faz-nos refletir sobre as espécies, como pode existir criaturas tão grandes e como pode o homem tentar usar isso ao seu favor, manipular a natureza de forma que conquiste mais e mais dinheiro. É triste.

Nota: 5/5

Deus Não Está Morto, 2014


Josh Wheaton (Shane Harper) é um estudante que tem sua fé desafiada por seu professor de Filosofia, Mr. Radisson (Kevin Sorbo), que acredita que Deus não existe. Gira em torno da vidas de várias pessoas que também são desafiadas por um mundo que acredita que Deus não existe.

Eu tenho uma mania estranha, as vezes, de assistir algum filme sem ao menos buscar o mínimo de informação sobre o mesmo. Confiar sem nenhum motivo aparente e vamos que vamos. Muitas vezes dá certo, mas não foi dessa vez. Inocentemente, quando soube que tinha um professor de filosofia ateu eu nem quis ler mais nada e dei play no netflix... que tolo eu sou. Logo no início me deparo com um filme tendencioso, onde o ateísmo só é um ponto a ser mudado, até ai beleza, mas os artifícios para tal são os mais babacas possíveis como: Ateus perderam tudo e se revoltaram, ateus não amam, ateus pedem perdão nos momentos finais, ateus morrem rápido etc. 

É uma cagada sem tamanho, quem me acompanha sabe que não tenho preconceito algum com nenhum tipo de religião, mas aguentar um filme assim foi complicado. Os argumentos do tal menino são os mais comuns possíveis, ao ponto de eu dar risada, não pode me achar o mais inteligente do mundo, apenas por ter a nítida certeza de que, o professor, extremamente intelectual, jamais cairia em pensamentos infantis do tipo "como você odeia algo que não existe?". 

Além do mais, que porra de professor é esse que não dá o direito de escolha as alunos? Que merda! A proposta que ele apresenta não tem nenhum propósito, em termos de aulas, ele pede para escrever e foda-se o porquê disso. Sem contar também as outras religiões que aparece, pelo amor de Allah!

Que elenco ruim! Tem uma loira que tá com câncer no filme que, minha nossa, o olhar dela sempre aparece fixo para o lado oposto da câmera, como se o diretor - seja lá quem seja o diretor desse filme - a mandasse parar de olhar para a câmera e ela estivesse lutando contra isso. Que personagem idiota, sem sentido. O garoto protagonista não tem carisma, que horror minha gente! Esse negócio é um tash religioso! Castigo de satanás!

Bom mesmo foi ver Kevin Sorbo como o professor estúpido, não que ele seja bom ator, muiiiiiiito pelo contrário, é que ele fez Hércules naqueles filmes que passavam direto no SBT. Tá velho ele, que nostalgia.

Nota: 1/5

Velozes e Furiosos, 1955


Um homem injustamente preso por assassinato foge da prisão. Ele quer limpar seu nome, mas com a polícia perseguindo-o, ele é forçado a tomar uma bela jovem como refém, dirigindo um rápido carro esporte, ele acaba em uma corrida "transfronteiriça" na tentativa de chegar ao México.

Vale ressaltar que esse não é o filme original do "Velozes e Furiosos" de 2001, aquele com o Paul Walker e Vin Diesel, esse aqui é muito melhor! Dirigido pelo protagonista do filme, que por sinal podemos traçar um paralelo com o Vin Diesel, visto que ele possui a mesma delicada cara de macho, ele nos mostra carro o tempo todo. É corrida, é polícia, é mais corrida, é um monte de coisa. O casal atravessa o mundo com o Jaguar, carrão da época. 

Foi muito divertido assistir o filme aqui, pois fomos fazendo comparações o tempo inteiro com o "Velozes e Furiosos" de 2001, não a toa a loirinha começa o filme entrando em uma lanchonete, momento que eu gritei: "Agora vai pedir sanduíche de atum!". 

Tirando a brincadeira, o filme não tem nada de bom, é apenas divertido, produzido pelo grande Roger Corman esse filme é um pipoca dos anos 50, boa pedida para quem ama filmes com carros.

Nota: 3/5

Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada, 2007


Dan Burns (Steve Carell) é um pai viúvo de 3 garotas, que escreve uma coluna periódica em jornal onde compreende e resolve os problemas dos outros. Quando sai de férias com a família ele conhece Marie (Juliette Binoche), uma mulher inteligente e simpática por quem se apaixona. Só que, já na casa de praia e cercado por familiares, Dan descobre que Marie é a nova namorada de seu irmão mais novo, Mitch (Dane Cook), que diz estar profundamente apaixonado por ela.

Obs: Assisti novamente esse filme essa semana.

Me identifico demais com o Steve Carell, sua figura tão meiga e desconfortável, no mesmo tempo tão observadora me encanta. Acho-o muito elegante, eu diria até conquistador, esse jeitinho tímido, mas que parece saber que sua timidez pode ser uma boa arma para ganhar corações. Nesse filme em específico, me encanto com sua dedicação, unido com a naturalidade em ser só, enquanto protetor de vários. Mais do que protetor, ele se apresenta como aquele que guia as escolhas, e sabemos o quão difícil isso é, no momento em que a paixão entra em jogo.

Dan começa ignorando isso - ou simplesmente esquecer, o que eu acho até mais cabível - e, aos poucos, vai virando jovem novamente, sentindo algo que já havia sentido, mas com uma dose de maturidade. E maturidade é uma palavra que permeia essa obra simples e gostosa, Marie tem, de um lado, um meninão, bonito, que gosta de esportes e aventuras, de outro um pai, o nosso querido protagonista. A moça/mulher se encanta pelo segundo, pois é isso que precisa, como vemos lá no começo, quando estão na livraria, onde ela afirma que não sabe muito bem o que quer. 

Que doce esse triangulo amoroso, que família bonita, me faz ter inveja dela, no mesmo tempo que meu coração se enche de emoção com a relação que se cria, de forma que, quando acaba o filme, eu queira acompanhá-los para sempre, saber o que acontece. Na simplicidade, sem grandes emoções - mesmo que a cena que o querido Dan canta para Marie seja linda - o filme não apela em nenhum momento. No mesmo tempo que não é aquelas comédias românticas muito grudentas. Uma delícia, super indicado! 

Nota: 5/5


sábado, 30 de agosto de 2014

#08 - Assisti na Semana

A Culpa é das Estrelas, 2014


Diagnosticada com câncer, Hazel Grace Lancaster (Shailene Woodley) se mantém viva graças a uma droga experimental. Após passar anos lutando com a doença, a jovem é forçada pelos pais a participar de um grupo de apoio e logo conhece Augustus Waters (Ansel Elgort), um rapaz que vai mudar completamente a sua vida.

Fui assistir em uma sessão lotada de meninas - inicialmente até me assustei. Parecia que os créditos iniciais já as emocionavam, claro que imaginei que eram todas fãs do livro, o qual eu não li e não quero ler, principalmente após ver o filme. Não por achá-lo ruim, mas por acreditar ser suficientemente bom. A experiência do compartilhamento com essas pré-adolescentes me fez muito bem. Seria injusto analisar o filme em base ao meu olhar acostumado com esses filmes de doença. Isso se deve ao que temos como produto, hoje, para nossas jovens. Meninas suicidas, depressão, dependentes do amor etc. Aqui temos uma personagem que vive por viver até que, por acaso, encontra um rapaz, esse rapaz não é vampiro ou tem sua imagem exaltada, ele, pasmem, nem tem a perna. Mas é, como eu disse acima, suficiente bom para a menina. A trata como todas essas meninas que estavam assistindo merecem ser tratadas: Com carinho. É bom perceber que a emoção que brota não é simplesmente vinculada a imagem dos protagonistas, está direcionado aos seus atos. Tratar bem se torna, então, viver um infinito dentro de um minuto. Aliás, são ensinamentos importantes para essa idade, pois o jovem vive com pressa para aproveitar tudo, mas "a vida é longa demais" e o mais importante de tudo é saber quem te faz bem. Não um príncipe ou vampiro, um cara imperfeito, cheio de dúvidas, que usa o humor para esquecer os seus próprios medos. Enfim, um jovem.

Nota: 3/5

Peur(s) du noir, 2007


Seis animadores contam seis histórias de terror infantil. A seleção inclui os cartunistas Charles Burns, Blutch, Lorenzo Mattotti e Richard McGuire. O projeto realizado pela produtora francesa Prima Linea Productions, reúne nove nomes mundialmente reconhecidos por seu trabalho nos quadrinhos e na animação para uma criação bastante incomum: um desenho animado de terror. Medo[s] do escuro, em tradução literal, soma o talento de criadores gráficos de variados estilos, para colocar na tela seus maiores medos em relação ao escuro - um medo que, não importa em que situação, toda e qualquer pessoa já sentiu ao menos uma vez.

Fica claro, após terminar o filme, que não se trata de um terror para crianças, como estranhamente exposto na sinopse. Mas é possível sim enxergar um clima que beira a inocência do medo. Aliás, o medo do escuro é uma mescla de inocência. Então faz todo o sentido. O terror é o gênero que melhor pode ser explorado, ao meu ver. Se pegarmos a história do grande cinema americano, veremos que as grandes influências sempre foram os que pendiam para o terror e suas diversas sub-categorias, como o próprio trash. Algumas vezes existe terror no drama. O terror de perder, enfim, o terror do surrealismo. Eu me sinto apavorado com um filme do David Lynch, por exemplo. Então podemos observar que existe uma mistura de sentimentos quando falamos de terror, é literalmente uma viagem, algumas vezes estranha outras nem tanto. O que importa é que somos confrontados com o limite da imaginação. Por isso, essa série de curtas é interessante a ponto de levar a reflexão sobre o estranho. Afinal, todas as simples histórias apresentadas são bizarras e sem muita explicação, cabendo ao visual a capacidade de decifrar. O preto e o branco, como falam esses opostos. As cores mais enigmáticas que existe e, aqui, perfeitamente usada para compor uma falta de linearidade. Enfim, adorei. Obs: Assisti com minha irmã ( de 9 anos ) e ela também gostou bastante. Apesar de ter achado muito difícil.

Picnic, 1996


Acreditando que o mundo ia acabar naquele mesmo dia, três pacientes mentais: Coco, Tsumuji e Satoru, saem em uma grande cruzada. Andando sob os muros da cidade, eles procuram o melhor ponto para assistirem ao evento final.

Shunji Iwai é um diretor, no mínimo, intrigante. Há alguns anos assisti, por acaso, um filme dele chamado "Vampire" que mexeu tanto comigo a ponto de coloca-lo dentre os meus favoritos. A realidade do sangue, da sede, aliado a fotografia crua, oras perversa, me causou algum impacto, confesso. Depois fui ver "April Story", que é curtinho, história bem simples mas apaixonante. Ontem me peguei assistindo meu terceiro do diretor, "Picnic" fala sobre o fim. Não o fim do mundo, o fim no sentido limite. O olhar sobre a questão a ser tratada é confundida diversas vezes, claro, afinal, os enxergamos com os olhos dos protagonistas, que por sua vez não são nada normais, aliás, quem é mais normal? Eles ou o padre que entregou a bíblia? Só sei que a cena final é linda, na simplicidade ( recorrente na filmografia do diretor ) ele nos faz pensar que o fim é só nosso. E que a loucura é vida e vida é loucura. Resta-nos admirar o mundo em cima dos nossos muros, afinal, é só isso que sabemos fazer.

Nota: 3/5

Il Giorno In Più, 2011


Giacomo Bonetti tentou evitar a vida inteira qualquer compromisso afetivo e sentimental. Mas as coisas mudam quando encontra uma garota no trem. A encontra todas as manhãs quando vai trabalhar no ônibus que atravessa a cidade. Quando finalmente consegue falar e passar uma noite com ela, descobre que se chama Michela e é o seu último dia na Itália; está indo à Nova York onde recebeu uma proposta de trabalho em uma importante editora. Giacomo recebe uma proposta na América do Sul e ele aceita, mas durante sua transferência, faz escala em uma cidade não muito longe de Nova York e ele aproveita para procurar Michela.

Com um começo meio bobinho, dando a entender ser um filme de comédia bem clichê, que retrata a vida desajeitada de um solteirão, que só quer saber de usar as mulheres, sem vinculo com ninguém, enfim, é aquilo. Ele conhece uma mulher em um trem e faz da pobre moça o seu alvo. Eu diria que até o meio do filme o personagem principal é insuportável, é difícil acreditar que tantas mulheres - principalmente a tal moça do trem, super inteligente e linda - se interessariam por ele, de tão chato que ele se mostra. Faz besteiras, magoa as pessoas, credo! Mas ao longo ele vai mudando, principalmente quando se depara com o novo sentimento, até então novo para ele, aliás, o relacionamento dos dois é legal, gostoso de ver, talvez eu estava aberto para um romance italiano, ou simplesmente é meigo mesmo. Não deixa de ser uma boa opção para um dia de chuva, sem estar fazendo nada. Enfim. O que atrapalha bastante é a duração.

Nota: 2/5

The Toll Of The Sea, 1922


A jovem Flor de Lótus vê um homem inconsciente flutuando na água perto da praia e o socorre. O homem é Allen Carver, um americano visitando a China. Os dois se apaixonam e Carver promete levar a jovem chinesa com ele. Após ser desencorajado por amigos, Carver volta sozinho para os EUA, causando tristeza em Flor de Lótus. Alguns anos depois, os dois se reencontram e a reapromixação será difícil para ambos. “ The Toll Of The Sea” é considerado o primeiro filme colorido feito em Hollywood e o segundo realizado em Technicolor.

Esse é um filme de 1922, mudo, mais conhecido por ser um dos primeiros filmes em cores feitos na história do cinema. É uma experiencia bem diferente ver um longa de uma hora onde a proposta principal é uma mulher a espera do "marido" que claramente nunca o fora. Explorando uma contextualização muito grande, visto que sem ela a obra poderia se tornar cansativo para os nossos olhos ( 2014 ). Mas essa sensação de descobrir artes esquecidas é muito prazeroso. The Toll Of The Sea é tão esquecido que recuperaram tempos mais tarde e tiveram que restaurar as cenas finais, então não deixa de ser emocionante assistir. Vale mais pelas sensações que passa do que a história, já que mesmo para época é bem mais ou menos.

Nota: 3/5


#07 - Assisti na Semana

Subconscious Cruelty, 1999


Filme blasfemo, surreal e atmosférico, uma viagem aos abismos da mente e a capacidade de crueldade de todo ser humano. Imagens dilacerantes, chocantes de evocações malignas, assassinatos de bebês, sacrifícios cristãos, órgãos devorados, perversão sexual explícita, tudo saído direto da mente de um canadense insano (o diretor Karim Hussain), que fez um dos longas mais bizarros e polêmicos de todos os tempos.


Então, eu estou muito acostumado com filmes ultra polêmicos e o diabo. Já assisti coisa que, se eu contasse para algumas pessoas, elas duvidariam da minha sanidade. Mas uma lição boa que pude tirar do choque é que, por trás dele, sempre existirá um diretor ( louco, pervertido, maniaco, artista etc ) que quer contar a sua história. Dane-se os religiosos e conservadores, existe milhões de pessoas para assistir o mesmo, então eu aplaudo aqueles que se atrevem pensar. Independente do quão agressivo seja a obra escolhida. "Subconscious Cruelty" não existe em troca de nada, é claro que não é uma obra máxima, comparado a Godard, aliás, foda-se Godard. Ele tem um propósito, uma ideia que é moldada e, depois, se apresenta ao espectador do jeito que é, que existe no nosso dia a dia. A realidade não é uma coisa bonita, pelo menos na sua maioria. Esperei assistir uma obra vazia e me deparei com reflexões belíssimas, agradeço mais uma vez ao cinema extremo.

Nota: 4/5
Questão de Tempo, 2013


Ao completar 21 anos, Tim (Domhnall Gleeson) é surpreendido com a notícia dada por seu pai (Bill Nighy) de que pertence a uma linhagem de viajantes no tempo. Ou seja, todos os homens da família conseguem viajar para o passado, bastando apenas ir para um local escuro e pensar na época e no local para onde deseja ir. Cético a princípio, Tim logo se empolga com o dom ao ver que seu pai não está mentindo. Sua primeira decisão é usar esta capacidade para conseguir uma namorada, mas logo ele percebe que viajar no tempo e alterar o que já aconteceu pode provocar consequências inesperadas.

Há! Difícil não gostar de um filme que tem a Rachel McAdams. Não por ser a mulher mais linda do mundo, tampouco por ser das melhores atrizes, mas ela tem olhos e sorriso perfeito. Do tipo que, aos poucos, somos levados a acreditar que está apaixonada pelos atores da qual contracena. Talvez seja paixão por atuar, quem sabe. Independente, "About Time" é um bom passatempo, do tipo que faz bem ao coração. Leve e divertido quando tem que ser, emocionante nos momentos certos e, como é de se esperar, trás consigo uma mensagem otimista sobre a rotina. E, convenhamos, todos nós precisamos delas, uma vez ou outra.

Nota: 4/5

Dirkie - Perdidos No Deserto, 1969


Um filme sobre a sobrevivência de um pequeno menino no deserto do Kalahari, após a queda da aeronave.

Jamie Uys, diretor desse tesouro perdido, fez um documentário chamado "Os Animais Também são Seres Humanos". Inclusive foi o ganhador do Globo de Ouro do ano de 1975. Uma informação relevante, ao meu ver, visto que em "Dirkie" o cachorrinho é muito ser humano. Digo isso pela sua força mesmo, destro da narrativa. O garoto não está sozinho em nenhum momento, digo mais, luta mais para salvar o cachorrinho do que a própria vida. Se revelando um verdadeiro herói. Outro ponto interessante é os milhões de bilhetes que o pai joga pelo deserto, desejando colocar dicas de sobrevivência, como encontrar água, comida etc ele ouve o seguinte "coloque que você o ama e que logo irá encontrá-lo". É muito gratificante assistir um filme que não é o mais sério possível, aliás, tem um clima bem gostoso e, ainda assim, consegue ser muito sério na mensagem. O filme fala sobre sobrevivência, aquela que vem do coração. Há muitos casos de pessoas perdidas em selvas e desertos, mas eu apostaria que todos aqueles que viveram para contar as suas histórias só o fizeram porque amam e se sentem amados. Encontraram forças para tentar começar novamente. Guia nenhum do mundo te mostra como sobreviver, esse saber vem da sua esperança.

Nota: 4/5


quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Miss Violence, por Diego Alcantara


Recebemos um comentário muito embasado e de uma dedicação tamanha, referente ao podcast sobre "Miss Violence", filme Grego. Perguntei ao autor, -  que, inclusive, em breve se juntará conosco nas gravações  - o amigo e ouvinte - Diego Alcantara se eu podia postar aqui no blog suas interpretações. Muito bem, está ai:

Muito boa tarde Emerson e Sandro! É uma satisfação poder escrever o meu comentário a cerca do podcast lançado. Antes de tudo gostaria de me desculpar por não ter assistido a tempo a sua indicação de filme, Emerson, o Miss Violence. Ainda bem que fui assistir ao filme em outro momento de minha vida, no qual eu já estava mais estruturado mentalmente. O filme me comoveu e me marcou. Simplesmente assim!

No momento em que cenas mais fortes se passaram eu simplesmente gritei, gritei no desespero daquele que vê e que na excelente descrição do Emerson, se sente uma mosca a observar a vida alheia. Quando me refiro à forte quero deixar bem claro que é mental, assim como grande parte do filme é mental. Logo por ter essa construção o filme se torna mais marcante e maçante por ser algo que digamos assim está repreendido na pessoa.

Queria deixar claro dois aspectos do início do podcast que me deixou muito feliz, por causa do respeito que transmitiram, foi sobre o claro aviso de spoolers e informações que quebrariam a emoção passada pelo filme. O outro foi o embasamento sobre a origem dos filmes gregos e o seu destaque no cinema mundial.

Mas voltando ao filme Miss Violence, certamente alguns pensamentos meu acerca do filme são divergentes do modo que esse ou aquele pensará. Da mesma forma que o de vocês dois Sandro e Emerson, divergiram. Dada as considerações iniciais a partir de agora deixarei todas as minhas observâncias em torno dessa bela arte que me foi apresentado.

Aos minutos iniciais do filme você percebe que algo incomoda naquela suposta cena de alegria que me é apresentada, a felicidade, por assim dizer parece forçada. E as crianças não são condizentes com aquele “teatro” apresentado e encenados por elas mesmas. O olhar baixo das duas mulheres que até então não se consegue descobrir a correlação entre elas demonstra certa passividade para com o avô ancião.

Minutos quando a segunda mais nova das 4 filhas com recém feitos 11 anos, a primeira oportunidade com olhar de extrema certeza e convicção do que queria se atira rumo à morte certa, que é acompanhado pela quebra sonora e faz um quadro estático e agonizante permanecer por mais de 2 minutos.

Nessa pausa sonora o filme me tele transportou para o interior de mim mesmo em busca de respostas do que está acontecendo com esta família e mais especificamente com esta criança, que preferiu a morte em meio de um futuro a uma família “tão querida”. Enquanto você viaja em torno de lembranças (e nesse momento certamente você se remete a sentimentos tão somente seu.) o filme decorre com a família indo de encontro ao corpo estirado no chão. 

Só por este inicio já chocante você tem uma mera impressão sobre o que vai ser dessa família. No meu caso, varias vezes minhas impressões foram quebradas e jogadas ao ar como simples especulações. Por vezes, me senti tipo um vizinho bisbilhoteiro que observa aos outros por um único engulo, como uma fresta na madeira da porta.
Foi essa a explicação mais plausiva que consegui assimilar após assistir ao filme e ouvir ao Podcast. As imagens estáticas realmente dão a impressão que eu, telespectador, sou um intruso e que não deveria estar sabendo ou mesmo compartilhando do que se passa naquela família.

Passado a morte da garota, você acha que a família estará acabada e aniquilada, mas outro levedo engano, a família segue a vida inabalada e ao invés de lembrar-se da garotinha morta, eles dão um jeito de esquecer e apagar qualquer tipo de lembrança e objeto que remetesse a ela. Esse acontecimento marca definitivamente que há algo errado naquela família e você telespectador mesmo sentindo que não deveria, se vê atentado a continuar a descoberta de informações.

Passado outras cenas demonstra o poder que o “avô” tem sobre a família inteira que consiste do “pai-avô”, casado com a mulher anciã mais velha, portanto “avó”, que teve a filha 01 que supostamente teve relações sexuais com o “pai-avô” e teve os outros 03 filhos, sendo composto por um menino e duas meninas uma de 10 anos e outra de recém completos 11 anos, na qual se suicidou e deu todo o desenrolar ao filme. Além deste tem uma jovem que a meu ver seja irmã da filha 01, na qual surgiu de uma segunda relação sexual entre “pai-avô” e “avó”.
(acredito que esteja confuso, contudo sou ruim de lembrar nomes)

O parágrafo acima, só pode ser concluído observando os minuciosos e pequenos diálogos que os atores trocavam. Dentre outras cenas a que me chocou foi o pai-avô levando a própria família para ser estrupada em troca de dinheiro. Naquele momento vários questionamentos foram sendo respondidos. O descaso do “pai-avô” em relação aos empregos encontrados e a ligeira despreocupação quanto a isso me fez perguntar como ele conseguia manter o padrão de vida. A resposta mais que obvia era com o dinheiro da assistência social e com a prostituição das crianças.

Resposta essa que só me foi elucidada com esta passagem e o curto diálogo no carro. Do qual se revelou todo o porquê do suicídio. Este foi motivado pelo fato da jovem irmão da filha mais velha ter contado à pequena que acabara de fazer 11 anos que o seu destino seria aquilo que ela estava passando no carro, a prostituição a submissão e a própria morte interior.

Diante de dada afirmação agora se torna mais compreensível e tangível o sorriso estridente da garota ao pular da sacada do prédio, eu telespectador achava que o filme estaria por fim, por que mesmo sabendo de tal afirmação o clima ainda continuava tenso e escuro, sem nenhuma possibilidade de alegria.

Quando você acha que tudo está ok e o filme vai acabar acontece mais duas cenas marcantes o pai leva a jovem de volta para a casa e noutro dia lhe entrega o dinheiro meio que cobrado do carro. Lembrando que esse dinheiro na verdade é uma alegoria e quando a jovem cobra do pai na verdade ela o afronta demonstrando que mesmo submissa ela não esta complacente com o que esta acontecendo na família.

Junto com o dinheiro entregue o “pai-avô” vai até a filha mais nova, menos de 11 anos e a convida para tomar o tão prometido sorvete, no momento eu achei que o filme já tinha mostrado o que queria e boa. Mas não! O pai o leva na casa de um “amigo” que realmente oferece sorvete a criança, simples e até então inocente ela saboreia o sorvete em primeiro plano e com a imagem sempre estática se observa ao fundo uma suposta negociação na qual “pai-avô” e amigo trocam papeis ou suposto dinheiro.

O pai vem do fundo caminhando lentamente ao primeiro plano e começa a conversar com a filha. Tal abordagem já te deixa apreensivo com o que pode acontecer, na qual tal atrocidade pode ser também cometida a essa garotinha até então inocente em seu mais puro significado. Porem eu incrédulo acreditei na bondade do ser humano e me fudi mais uma vez. O “pai-avô” instiga a criança a dançar uma mesma musica que ela tinha dançado em outro momento.

Recatada ela meio que fica desajeitada por estar em um ambiente desconhecido. O “pai-avô” insistiu mais uma vez e por fim ela se rende e começa a dançar. Ambos, “pai-avô” e amigo observam-na dançar até que depois de alguns segundos o amigo se levanta e vai de encontro à menina, nesse momento a minha cabeça gira e o amor pela humanidade desaparece, cheguei a ficar tonto, falei mal e loucuras por tal atrocidade.

O pai complacente com tudo aquilo naturalmente tira uma foto da criança. Quero salientar que o olhar confuso da criança e buscando resposta para com o pai me emocionou de tal forma que o mínimo de piedade que tinha com ele desapareceram. Nesse momento em meio a duvida e a cara de medo da criança fica a certeza de que o futuro dela seria mudado dali pra frente.

[gostaria de fazer um adendo a respeito da foto, pois esta é uma pratica muito comum entre os pedófilos que são os de tirar foto com suas vitimas]

Não obstante depois da cena mais chocante do filme ao voltar para casa à menina vai buscar socorro a sua mãe que é filha 01 do “pai-avô”. Esta ficou imóvel e se deu a entender que estava acordada e ciente de tudo o que estava acontecendo e mesmo assim não prestou nenhuma ajuda a pobre criança que passara por tal atrocidade.

O “pai-avô” levou a criança para o quarto dormir e enquanto isso a avó deixava clara a minha percepção anterior pedindo para que a filha 01 fosse dormir e ignorasse tudo aquilo. De volta à cozinha, o “pai-avô” oferece uma xícara de sorvete à avó que enquanto a sua presença se faz no ambiente esta um clima tenso e ela faz que nem viu a xícara de sorvete. E continua a lustrar a prataria que esta em cima da mesa.

Ao telespectador mais atento pode se observar que a “super concentração” aos talheres que estão sendo lustrados pela avó é duvidosa e alem disso suspeita. Nesse momento tenso ela lustra 03 facas que “propositalmente” vai da menor até a maior. Nesse momento eu adoraria ser surpreendido ao ver a avó acertar com uma facada bem escancarada a cara do “pai-avô”. Porem isso não acontece, a cena se segue e o “pai-avô” fala à avó que já esta tarde e esta deveria dormir, ignorando-o ela continua as suas atividade e a imagem escurece.

Novo frame sons de passos indo de encontro à tela principal aonde esta a avó indo sentar e é interrompida pelos passos que segue a direita. Novo ângulo a filha 01 detentora dos passos anteriores começa a chamar pelo “pai-avô”, um silencio entre as palavras dela, marca a cena. Preocupada ela abre a porta e novo ângulo é exibido este novo mostra a mesma porta vista por dentro do quarto, ainda no foco a filha 01. Está olha para o lado da câmera, porém vendo supostamente alguém deitado na cama muito provável o “pai-avô”. Ela subitamente sorri e o telespectador sente certo alivio, meio que já prevendo o que esta acontecendo.

Após segundos ela abre a janela o que da a entender que a partir de agora a serenidade e tranqüilidade iria sondar aquela família já que em segundo plano ao abrir a janela se vê um corpo na cama e com as genitálias ensangüentadas, corpo este que supostamente é o do “pai-avô”. E ai o Telespectador respira aliviado, pensando que o sofrimento cessaria, contudo outro levedo engano é transposto, porque ao voltar para a sala aonde a avó se encontra sentada no sofá é observado que ela esta com um olhar de dominação observando a todas as três crianças e todo o sentimento de liberdade sentido há segundos atrás é quebrado repentinamente e assim acaba o filme.

Acredito que o filme trata de um assunto muito tênue, o poder. A dominação, por que em todo o momento apesar de quem fazer as ações muito claro é o “pai-avô”, não se sabe até que ponto os demais membros da família são complacente com tais atitudes.

A meu ver a filha 01 é passível a tudo que acontece daquele jeito por que ela foi a primeira a nascer naquela família logo ela não tinha e não tem noção de certo e errado, porque convenhamos, essa noção é repassada através de convivência, agora imagina, que convivência a filha 01 teve com outras pessoas para criar o senso critico dela?

Muito ao contrario é a filha 02, oriunda de uma segunda relação “pai-avô” e avó. Ela por ser a segunda já tinha um senso critico maior e foi vendo desde sua juventude o que acontecia com a sua irmã mais velha e em contraponto observava que outras famílias já não tinham isso e com base nas contradições sempre que pode confrontou o pai, já que ela foi à única que denunciou os acontecidos para os profissionais na escola. 

Já a avó, tenho minhas serias duvidas, acredito que desde sempre ela foi complacente com tudo e acobertava as atrocidades cometidas, como pode ficar bem claro no decorrer do filme. Também acredito que ela sim vai continuar a tocar o terror na família, tendo assim o poder da vingança, porém não descontado no seu cônjuge, mas sim nos produtos de sua relação.

A percepção desse filme vai muito alem imagens e entra no seu subconsciente. E é este a jogada perfeita que pode ser encontrada nesse espetacular e áspero filme grego. Meus parabéns aos criadores e executores do filme.

Obrigado Emerson por essa experiência que certamente não fosse você nunca teria em minha vida. E desejo que meu comentário seja lido na integra. Um grande abraço e até uma próxima oportunidade.


Diego Alcantara de Almeida

domingo, 24 de agosto de 2014

Ruby Sparks, 2012


Ouvi muita gente simplificando o filme para, apenas, "legalzinho". Quem sou eu para dizer o contrário, evidentemente, mas devo deixar claro que essa é uma pequena obra que mexeu muito comigo. E, honestamente, mesmo tendo conhecimento das suas limitações, "Ruby Sparks" é muito profundo. Eu diria, sem medo algum, que estamos falando de um filme denso.

Há algum tempo, eu tinha recorrentes sonhos com uma menina. Lembro-me muito  de seus cabelos castanhos e rosto arredondado. Não sei porque, mas dentre alguns dias eu ficava feliz por voltar a dormir e reencontrá-la. Os sonhos eram uma sequência da noite anterior - eu sei, é bizarro - parece que eu estava contando ( ou vivendo ) uma história dentro da minha cabeça. Não lembrava de detalhes ao acordar, apenas as sensações e, sinceramente, bastava. Não quero me colocar como o protagonista, muito menos dizer que é por esse motivo que me identifiquei, a única coisa que quero acrescentar com essa experiência, digamos, diferente, é: Histórias estão sendo criadas constantemente. Irreais ou não, não importa, a partir do momento que existe, é real. Isso vale para qualquer coisa, desde os mais misteriosos, passando pelos irrespondíveis até chegar ao sentimento, seja ele qual for.


Misturados a essa questão, podemos trazer - como o próprio filme, que é altamente metalinguístico e contemporâneo - o quão palpável se revela o ato de criar expectativas sobre alguém. O personagem principal, Calvin, não se relaciona em nenhum momento com uma namorada, somente com ele. O título "A namorada perfeita" se torna então uma grande ironia, vejam, ela não existe senão na nossa cabeça, ou seja, nós.
Muito se fala da falta de respostas que há no filme, parece bobo uma personagem saltar do livro e viver na realidade (?) Mas... Espera. Que livro é esse? O que é um livro? Não consigo classificá-lo de uma forma que não se aproxime de um portal, onde eu posso fugir e encontrar algo que me inspire. Por mais ficção que seja uma obra, o seu impacto sempre será real. 

"Ruby Sparks" começa em um sonho, a querida Ruby, surge quase como um anjo, em um lugar puro, como se fosse mesmo um "paraíso". Ela está envolta de um brilho muito forte, remetendo talvez ao calor, ao conforto, visto que o personagem principal, no caso o escritor, tem uma vida muito fria, longe de qualquer relação social que não seja motivada pelo seu trabalho literário anterior, ou seja, sua criação. Depois que ele acorda dessa primeira visão - mas quem pode confirmar que tenha sido a primeira? - vamos acompanhando o dia-a-dia do Calvin, um escritor, um tanto neurótico, que tem como amigos 1° seu irmão e 2° seu cachorro. Vive em uma casa enorme, maior ainda quando os cômodos sempre aparecem extremamente vazios, visto que só ele vive lá. Ainda mais, se não bastasse a falta de comunicação com o mundo exterior, é evidente no filme o problema dele com os telefones, ele nunca sabe qual deles está tocando, em uma metáfora interessante.


Depois de uma entrevista sobre o seu grande livro de sucesso, ele ouve pela primeira vez "você é um gênio!" no qual responde "não use essa palavra". Algo que no final do filme, ele se contradiz, remetendo-nos a elevação do próprio ego. Como se o ser gênio fosse o seu gozo e, para tal, precisaria de uma boa e delicada masturbação - que seria o próprio desenrolar do filme.
Pequenos elementos do filme nos direciona sobre a questão, dentre outras, principal, o controle. No segundo sonho que ele tem com a sua futura amada, eles se encontram no parque - dessa vez com um contexto mais realista - e conversam sobre o seu cachorro. Ela pergunta o nome e ele diz "Scott", acrescenta ainda que é uma homenagem ao escritor, romancista, F. Scott Fitzgerald, a menina real retruca com a reflexão "isso não seria uma forma de diminuição? Pegar o nome de alguém que se inspira e colocar no cachorro, de modo que possa colocar uma coleira nele e bater se fizer algo errado?". Lembrando, estamos ainda em um sonho. Ou seja, é a própria mente dele dizendo isso, como se fosse uma assombração. 


O que mais me impressiona, na verdade, é o potencial filosófico que vai se desabrochando aos poucos. Uma teia de significados, simples, divertidos e profundos que se unem para construir uma reflexão maior que seria o criador e criatura. Criamos constantemente sem, ao menos, entender a dimensão de criar. A vida a dois é muito complicada, então caminhamos em direção a estrada dos covardes, a ilusão. Vamos deixando de lado nossas convicções, o que realmente buscamos, para abraçar uma oportunidade, mesmo que várias outras foram perdidas. E o filme fala muito disso, de obsessão pelo tempo. Um drama sobre um invisível que, lá no fundo, se sentia o mais poderoso do mundo. Um ser narcisista, o que me faz pensar que todos somos. Todos somos reais e egocêntricos. Não precisa de caneta ou papel para escrever, existe outras ferramentas, outras almas. Canalizadores de medo.

Cometemos incesto diariamente, literários ou não. Lembre-se, a intenção não deixa de ser um evento real. Então, pergunto a você, em que tem pensado/imaginado ultimamente?



O escritor é um Deus. A menina a criatura perdida e a máquina de escrever sua alma. Todo relacionamento é fruto de uma ou mais criações e, após o término, estamos livres. Calvin, nosso herói/vilão controlava tudo, mas não controlava ele, ou seja, nada. Ele, no fim, após uma cena angustiante, apaga as memórias de sua cria, porém não apaga as dele. Está fadado a ser um ser amaldiçoado - ou abençoado.

"Todos vão pensar que sou louco. Não, vão achar que é ficção."


- Escrito por Emerson Teixeira que, talvez, você já tenha conhecido em uma outra vida. Posso ser real ou não, depende do que sentiu ao me sentir. Faça tudo o que quiser, mas, me prometa, não me conte o final dessa linda história.

Com carinho

domingo, 17 de agosto de 2014

We are the Best!, 2013


É impossível terminar de assistir "We are the Best" e não ter uma rápida vontade de raspar a cabeça, viver desprendido de várias correntes, como o próprio consumismo ou a "cafonice" de ser uma pessoa normal. Logo caímos, ou melhor, cai, por terra e descobri que existe um punk dentro de cada um de nós, não aquele que diz respeito ao gênero musical, muito menos aquela ignorância que te faz bater no peito e gritar: Vejam o quanto minha tribo é superior que a de vocês! Não, o punk atitude, o punk que se ouve e, sendo assim, sentida aos poucos, se revela uma arte adorável. Tão doce quanto Mozart. Ora veja, caro amigo(a), Mozart pode ser muito bem um punk, um vovô do rock, visto que é música, visto que é arte - atitude.

Doçura na voz de Hedvig, na sua versão espetacular de "sex noll två" música do KSMB, a qual, graças essa pequena grande obra, pude conhecer e me deliciar por, simplesmente, me fazer lembrar dessas três protagonistas, Hedvig, Bobo, Klara e Lukas, Lukas Moodysson. Opa, espera, eu disse três, me desculpem, eu quis dizer quatro. Afinal, Lukas é uma grande mulher-menina que entende muito das meninas-mulheres, as vezes muito mais do que as próprias mulheres-mulher. Lukas Moodysson é um presente, cria da arte, assim como seu último filme aborda filhas de um único elemento, a música.

O olhar das suas câmeras está de volta, meio frenético, meio focado e desfocado, meio aqui e lá, Lukas volta as raízes de um cinema por qual me apaixonei quando, oras bolas, ainda tentava me imaginar como um adulto, nos auges dos meus 13 anos conheci Lukas, ou melhor, ele me conheceu. Me conheceu e me apresentou, junto a outros grandes nomes, o cinema independente, a arte independente. Aquela que você faz porque quer dizer alguma coisa, diferentemente da grande indústria, que faz de alguma coisa um grande nada. Falando em grande nada, cada filme do querido Lukas é uma sensação diferente, "4-Ever Lilya" retratava o abandono de uma "nada" que, após descobrir por si só, se mata, ou melhor, começa a viver. O abandono está claro no seus filmes, até mesmo nesse último, mesmo que o abandonado seja a postura familiar e não as crianças, como visto anteriormente em seu trabalho. 


Personagens bem trabalhados por uma pessoa que sempre se dedica a experimentar. Não sabe do que estou falando? Assista "Container". Esse filme é uma bizarrice só. Quase um monólogo de um senhor(a) chamado vazio. Preto e branco, lento e, para alguns, chato, é uma grande experiência. Não tão grande como a escolha sexual talvez, aliás, nunca seria tão importante quanto. Em "Amigas de Colégio" temos uma escolha, banhada em muito realismo, sim, realismo do jovem. O beijo dentro do carro, que coisa mais linda. Beijo para Lukas nunca é por nada, assim como o sexo não é só nojento em "Um Vazio no Meu Coração". 

"We are the Best" ou "Nós somos os Melhores", como ficou a tradução, pode ser muito bem entendido como uma experiência pura e simplista de aproveitar a inquietação de crescer. Buscamos incansavelmente todos os dias meios para nos assumir, qualquer que seja nosso segredo. O visual transgressor e a alma punk, são pequenas coisas perto de duas meninas ( Klara e Bobo ) que, no seu interior, tem tanto a gritar para o mundo. A música é a mãe delas, o que une ambas a um terceiro e, ao meu ver, mais importante ponto do filme: Hedvig. Ela se apresenta como uma entidade artística. Portanto aberta a novos pontos de vistas, preparada para passar adiante o que sabe e aprender aquilo que necessita tanto, a bendita atitude. Como conquistamos ela, senão, pela influência? 

Como disse, a música é o pontapé para a unificação de ideias e ideais tão diferentes. Uma cristã, uma agnóstica e outra atéia. Não que essa questão seja explorada ao máximo, apenas fica evidente uma certa reflexão e/ou deboche, que não é basicamente feita em base a certezas mas, como tudo nesse filme, por dúvidas. Fica claro isso quando a Klara desabafa que "Eu não acredito em Deus. Eu acredito em ketchup. É a melhor coisa que existe.


Enfim, é interessante notar que, apesar das certezas que cercam as três protagonistas, a construção, um tanto complexa delas, nos remete a todo instante que são crianças, que nada sabem da vida, senão, tudo. Se o objetivo é comprar uma guitarra, basta gastar o pouco do dinheiro que tem com... doces. Esse é um exemplo de muitos de que, a banda "We are the Best" é movida pelos insultos do mundo para o seu comportamento, digamos, diferente. E não é isso que fazemos todos os dias? Acreditamos fielmente que, dentre todas as pessoas, nós somos os mais loucos. #Somostodospunks

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Miss Violence, 2013


Comecei a olhar para o cinema grego com o clássico filme "Nunca aos Domingos", não que eu tenha amado o filme, simplesmente o assisti e, após descobrir onde fora realmente produzido, fiquei imaginando como a cultura grega poderia afetar o seu cinema. Digo isso por que todos sabemos que, culturalmente falando, a Grécia é um dos países mais ricos. Toda sua história encaminha para uma grande teia de arte pura, onde o homem é posto como interlocutor de suas próprias expectativas. Mas esse estranhamento passa depressa, principalmente quando nos deparamos com diretores como Theodoros Angelopoulos que, honestamente, eu colocaria no patamar "artista diferenciado, extremamente visceral". 

Em 2012 assisti "Kynodontas" e achei incrível. Fiquei chocado com tamanha exposição de crueldade, que em poucos momentos se revela visualmente, digo, uma intenção cruel. É incrível quando um filme choca sem nenhum motivo aparente, aqui temos o choque desde o início, nem ao menos precisamos saber do que se trata. Falo isso porque existe inicialmente um estranhamento sobre os fatos e, só depois, começamos a entender o que se passa com a família protagonista de um horror registrado. 


Também se preocupando em dissecar a "alma de uma família", Miss Violence, de 2013, pode-se traduzir como um soco no estômago. Sim, bem doloroso. Daqueles que sabemos que existe muito mas, por artifícios simples como ser simples, a história se desenvolve e, a cada minuto que passa, o gosto amargo na boca cresce. 

Conta a história de uma menina que, no seu aniversário de 11 anos, se suicida pulando da janela do seu apartamento. Deixando sua família - duas irmãs, irmão, avô/pai, mãe e avó - tristes com sua perda (?) Na verdade, essa tristeza comum (?) não acontece o que começa a causar um desconforto em promotores que avançam no caso em buscas de respostas sobre o que esconde aquela família.


O "desconforto dos promotores" não é só dos promotores, acontece principalmente com os espectadores, aliás, eu diria que o filme é movido por um desconforto inabalável. Logo no início temos uma festa de aniversário, tomada por um clima fúnebre, fingido e tosco, a menina caminha em direção a janela e, antes de pular, olha profundamente para a câmera/nossos olhos - ou seja, quebrado a quarta parede - como se quisesse avisar o que estava acontecendo. Aos olhares atentos, fica claro que o filme percorrerá a exploração, o que não é previsto é qual das tantas ele se tratará. 


Retomando as comparações, é inevitável não lembrar de "Dente Canino"/"Kynodontas" e do diretor Haneke, cuja obras estão muito próximas ao contexto sombrio apresentado aqui. Em "Miss Violence" temos inúmeras cenas onde a família tem seus rostos cortados dentro do enquadramento, ou seja, acompanhamos as suas ações, seus corpos, tudo, menos seus rostos, ironicamente simbolizando a relação monstruosa que existe naquela que podemos chamar de qualquer coisa, menos família. Curiosamente, temos o mesmo artifícil usado por Haneke em "O Sétimo Continente".

Filme silencioso, e o silêncio aqui machuca bastante. Claro, principalmente com a conclusão dessa aproximação fria. Nada fica muito claro ao longo, nem mesmo quem é a mãe, quem é a avó, quem são os filhos, ou melhor, fica claro. Ou melhor, não existe mãe, filhos ou avó, muito menos avô/pai. 

É... há cenas impactantes que, se eu analisasse aqui, comprometeria a "surpresa" no final, então fico no... tudo isso é real. 

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