quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Quando vi Você, 2012


Nunca tinha tido a oportunidade de assistir um filme da Palestina, mas consegui, por indicação, chegar até o trabalho da diretora Annemarie Jacir que, por sinal, foi a primeira diretora a realizar um longa por lá com o "O Sal Desse Mar" de 2008. Pesquisando sobre ela, soube que quando nova teve que deixar sua terra natal para um exílio forçado no país vizinho, fica bem claro no filme essa questão. O menino a interpreta, de alguma maneira.

O filme tem como pano de fundo a guerra, situas-se em um campo de refugiados palestinos na Jordânia, a história se passa em 1967, e todo o medo/confusão se personifica em um garoto de 11 anos que está constantemente em busca do pai, pois eles foram separados pelos confrontos que estavam acontecendo.

Desde o início temos a comprovação que a mãe do garoto tenta uma boa relação - consegue, de fato - mas somente ela não basta. Ele precisa de uma figura masculina, portanto ao longo será representado essa questão com o professor que o ignora, por ser muito inteligente, depois com os soldados, enfim, ele encontrará vários personagens que servirão basicamente como um apoio psicológico para ele, se mostrando altamente sozinho e frágil, desde a sua curiosidade pelos acontecimentos, passando pela facilidade com os números até chegar ao caminhar, tudo nele é inteiramente delicado. 


A sua inocência desperta muita compaixão, mas isso não é algo exclusivo apenas dele. Em um mundo tomado pelos horrores do conflito, eis que uma criança é o conforto dos vários corações tristes. E isso é um ponto que sempre tento procurar em filmes de "guerras". Para mim a guerra como um contexto se revela muito mais interessante do que um filme onde enaltece o heroísmo por matar, algo como "O Resgate do Soldado Ryan". Sei que existe muitos fãs desses filmes, mas ainda vejo com bons olhos filmes como "Vá e Veja" ou "Glória Feita de Sangue" onde o humanismo, sensibilidade e realismo falam mais alto. Pois matar não é fácil, pelo contrário, imagino os demônios que invadem um individuo após tais experiências, então nada mais justo que representar esse clima como um contexto. 

Junto a isso, gosto dessa ideia do olhar da criança, que por sinal já escrevi diversas vezes que sou um pesquisador dessa ousadia. Tarek, o nosso pequeno herói, é destinado, parte em rumo aos seus objetivos, mesmo que vá em direção oposta a mãe ou até mesmo ao coronel em determinada cena. Ele, após fugir de casa, encontra alguns soldados e passa a existir uma relação interessante entre eles, bem ou mal aquele é um lugar seguro para o garoto e, ainda mais, ele transmite inocência e pureza aos soldados, algo raro para eles. Apesar de destinado e maduro, ele não deixa de ser criança e se vê brincando de soldadinhos, recriando as ações do seus, até então, amigos/protetores/família. 


Um excluído que caminha em direção ao pai/proteção, se vê perdido nessa incansável busca, pois em um mundo tomado pela guerra, ninguém está totalmente seguro. Demora para o personagem se tocar disso, eu até diria que ele não chega a essa conclusão, a esperança prevalece, o que realmente destaco é que aquele lugar, de pessoas desconhecidas e soldados "insensíveis" faz com que ele se sinta o que é... criança. A vida é realmente irônica. Aliás, é muito bonita as cenas em que eles cantam envolta da fogueira, significando, talvez, a tal segurança, que todos ali buscam e, por um momento, fingem para si mesmo que o possuem.

"Onde fica nossa casa, que direção vamos?"

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