domingo, 28 de setembro de 2014

O Joelho de Claire, 1971


Eric Rohmer é um dos maiores nomes do cinema, com um trabalho dedicado inteiramente a arte de se analisar comportamentos, ou seja, verdades, ele se destaca não só por sua coragem como também pelo claro amor ao cinema. Começando sua carreia como crítico, em um tempo que a crítica era feita por artistas ou por jovens amantes do cinema, jovens capazes de qualquer coisa para ver a sua maior paixão seguir por um caminho duro e inesgotável, o caminho do realismo. E eles fizeram muito, dentre eles Rohmer, começaram a fazer os seus próprios filmes, contribuindo para um movimento, talvez um dos principais deles, chamado nouvelle vague.

Começando as analises sobre os filmes desse gênio, posso ressaltar que é interessantíssimo pensar que ele serviu como inspiração para muitos diretores que conhecemos hoje, principalmente aqueles que se dedicam aos diálogos. Como é o caso do Linklater, grande diretor da trilogia do antes. Como visto na trilogia, começando por "Antes da Meia-Noite", temos dois personagens, Jesse e Celine, ambos possuem muita maturidade para discutir sobre sentimentos e, juntos, vão encontrando soluções para diversas dúvidas que surgem ao longo, surge na vida de todos, na verdade.

"O Joelho de Claire", de 1971 me chamou a atenção desde o pôster. Uma belíssima menina, em uma fotografia preto e branco, diferente de alguma maneira, unindo isso com o título, nada convencional, e com a qualidade do diretor, é de se duvidar que o joelho represente muito mais, que a figura da bela ninfeta seja imprescindível para a trama. Bem, posso dizer que fui feliz nessa rápida interpretação, me dei conta do quão importante é, para mim, descobrir filmes como esse, que se revelam como um pequeno livro, onde pequenos detalhes serão dissecados de forma que componha personagens complexos, apesar da simplicidade que as coisas se desenvolvem.

Conta-nos a história de Jerone, um homem de meia idade que está prestes a casar com uma mulher que se relaciona há seis anos. Ele, antes disso, passa suas últimas férias como um solteiro as margens do lago Annecy. Lá ele reencontra Aurora, uma escritora, que é sua melhor amiga, companheira de muitas discussões sobre relações ao longo do filme. A questão é que a dona da pousada que eles alugam tem duas filhas adolescentes, Laura e Claire, Laura desenvolve uma paixão estranha por Jerone, mas, após dado momento, ele percebe que está apaixonado mesmo é por Claire, além do mais, nutre por ela um fetiche estranho: É obcecado pelos seus joelhos.

Como é lindo, um filme desse em plena década de setenta poderia cair naquela máxima de um filme polêmico e somente isso, mas nunca se transforma nisso. Pelo contrário, as discussões que surgem são sempre destinadas ao sentimento, isolando qualquer intenção sexual que possa existir e, quando indiretamente acontece, temos o personagem principal narrando os fatos de uma maneira tão doce quanto as meninas/mulheres com quem ele se envolve. 

Vale ressaltar que, em entrevistas, o diretor afirma que ele se inspirou na obra "Aurora", de 1927, um dos maiores filmes do cinema. Aurora é também o nome da amiga dele, cuja função na trama é enorme. As controvérsias começam justamente com ela, pois, é de se notar tamanha amizade dos dois, que coisa mais linda de se ver, uma pureza muito grande transparece no olhar de ambos fazendo com que os abraços, carícias e brincadeiras em nenhum momento se torne alvo de dúvidas sobre aquela relação. É estranho de ver até, não há muito essa questão nos filmes, nossos olhos estão treinados a ver sempre o casal de amigos se apaixonando, aqui isso não acontece, pelo contrário, a amiga é a única que tem contato com as revelações dele sobre o quanto sente desejo por Claire. Logo no começo, os dois trocam ideias brilhantes sobre relacionamento, o que nos motiva a encontrar alguém já que, no caso, Aurora é solteira, pensa bastante e somente em escrever.

Tudo isso torna o filme extremamente elegante, passeando sobre diversos conflitos pessoais, nos distância da ideia de que estamos assistindo um filme e nos aproxima a algo próximo a um voyeur, já que a palavra, aqui, surge muito mais sexy do que se tivesse cenas de sexo e etc. É incrível como o sexo está presente constantemente, mesmo que seja um dos filmes mais inocentes que vi nos últimos tempos. Portanto se trata sim de um filme sobre pedofilia, mas através de um olhar jamais visto. Muito longe da oobsessão como visto em "Lolita", por exemplo. O personagem principal tem plena consciência do que está fazendo, essa frase ilustra isso: "Ao me interessar por outra mulher, não sinto como se traísse Lucinde ( noiva dele ) mas como se fizesse algo inútil. Lucinde é tudo. Não se pode acrescentar nada ao tudo.

É de se notar, também, que a Claire e seus famosos joelhos só aparecem aos 45 minutos de filme. Servindo como uma separação ao mesmo, visto que o relacionamento do homem com a Laura é muito mais aberto, talvez por que o sentimento parta dela. Aliás, com a Laura o assunto flui muito mais naturalmente, o nervosismo não se faz presente e a garota se mostra extremamente madura, mesmo que na sua própria imaturidade. Ela acredita no amor, prioriza a paixão, como na cena em que ele tenta beijá-la e ela recusa, respondendo que quer alguém que a ame de verdade. Além do mais, ela não tem um pai. Talvez essa seja a principal diferença dela e sua meia irmã, Claire, ela procura o seu pai em qualquer homem que lhe apareça e, nesse caso, preferiu exteriorizar isso em forma de uma leve paixão. O que não é novidade, já que a própria personagem afirma isso em uma cena.

Finalizando, minha interpretação para com o joelho é que ele representa o detalhe. Temos hoje um amor ao corpo da mulher, amamos a bunda, os seios, a boca, enfim, o joelho se apresenta como uma parte do corpo indiferente. O que faz com que ele em nenhum momento ache que está fazendo algo errado em querer possuir aquela garota, pelo contrário, ele não quer possuir, quer exaltar os seus detalhes. Talvez a cena mais incrível para mim seja aquela em que o namorado da Claire põe a mão no seu joelho, de forma totalmente involuntária, Jerone olha para aquilo e, em outro momento, desabafa para a amiga: "O desejo que ela provoca em mim, me dá a sensação de direito sobre ela." Como se o joelho a desprendesse de um ser para um objeto. Uma criação de sua mente. Que será deixada livre após concluir o que queria, quando massageia seus joelhos como forma de consolo, aliás, a descrição dessa atitude pelo próprio me soa extremamente delicado, repleto de poesia.

- Caso com Lucinde pela simples razão de que a conheço há 6 anos e não me cansei dela. Não vejo por que isso mudaria. Deve achar que nos falta paixão, não é?
- Sim. Gosto de sentir que amo alguém desde o primeiro dia, não depois de 6 anos. Não chamo isso de amor e sim de amizade.
- Acha que são tão diferentes? No fundo, amor e amizade são a mesma coisa. 
- Não. Não sou amiga de quem amo.

Se nos basearmos nesse diálogo acima, o único amor verdadeiro do nosso protagonista é nossa amada amiga Aurora. Que, ao final do filme, deixa em aberto se está em um relacionamento ou não. No qual eu questiono, talvez seja o mais sincero deles. 

Fin

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Quando vi Você, 2012


Nunca tinha tido a oportunidade de assistir um filme da Palestina, mas consegui, por indicação, chegar até o trabalho da diretora Annemarie Jacir que, por sinal, foi a primeira diretora a realizar um longa por lá com o "O Sal Desse Mar" de 2008. Pesquisando sobre ela, soube que quando nova teve que deixar sua terra natal para um exílio forçado no país vizinho, fica bem claro no filme essa questão. O menino a interpreta, de alguma maneira.

O filme tem como pano de fundo a guerra, situas-se em um campo de refugiados palestinos na Jordânia, a história se passa em 1967, e todo o medo/confusão se personifica em um garoto de 11 anos que está constantemente em busca do pai, pois eles foram separados pelos confrontos que estavam acontecendo.

Desde o início temos a comprovação que a mãe do garoto tenta uma boa relação - consegue, de fato - mas somente ela não basta. Ele precisa de uma figura masculina, portanto ao longo será representado essa questão com o professor que o ignora, por ser muito inteligente, depois com os soldados, enfim, ele encontrará vários personagens que servirão basicamente como um apoio psicológico para ele, se mostrando altamente sozinho e frágil, desde a sua curiosidade pelos acontecimentos, passando pela facilidade com os números até chegar ao caminhar, tudo nele é inteiramente delicado. 


A sua inocência desperta muita compaixão, mas isso não é algo exclusivo apenas dele. Em um mundo tomado pelos horrores do conflito, eis que uma criança é o conforto dos vários corações tristes. E isso é um ponto que sempre tento procurar em filmes de "guerras". Para mim a guerra como um contexto se revela muito mais interessante do que um filme onde enaltece o heroísmo por matar, algo como "O Resgate do Soldado Ryan". Sei que existe muitos fãs desses filmes, mas ainda vejo com bons olhos filmes como "Vá e Veja" ou "Glória Feita de Sangue" onde o humanismo, sensibilidade e realismo falam mais alto. Pois matar não é fácil, pelo contrário, imagino os demônios que invadem um individuo após tais experiências, então nada mais justo que representar esse clima como um contexto. 

Junto a isso, gosto dessa ideia do olhar da criança, que por sinal já escrevi diversas vezes que sou um pesquisador dessa ousadia. Tarek, o nosso pequeno herói, é destinado, parte em rumo aos seus objetivos, mesmo que vá em direção oposta a mãe ou até mesmo ao coronel em determinada cena. Ele, após fugir de casa, encontra alguns soldados e passa a existir uma relação interessante entre eles, bem ou mal aquele é um lugar seguro para o garoto e, ainda mais, ele transmite inocência e pureza aos soldados, algo raro para eles. Apesar de destinado e maduro, ele não deixa de ser criança e se vê brincando de soldadinhos, recriando as ações do seus, até então, amigos/protetores/família. 


Um excluído que caminha em direção ao pai/proteção, se vê perdido nessa incansável busca, pois em um mundo tomado pela guerra, ninguém está totalmente seguro. Demora para o personagem se tocar disso, eu até diria que ele não chega a essa conclusão, a esperança prevalece, o que realmente destaco é que aquele lugar, de pessoas desconhecidas e soldados "insensíveis" faz com que ele se sinta o que é... criança. A vida é realmente irônica. Aliás, é muito bonita as cenas em que eles cantam envolta da fogueira, significando, talvez, a tal segurança, que todos ali buscam e, por um momento, fingem para si mesmo que o possuem.

"Onde fica nossa casa, que direção vamos?"

sábado, 20 de setembro de 2014

Calvary, 2014


Um padre é ameaçado de morte em pleno confessionário: deve acertar as contas com quem desejar, pois será morto no domingo seguinte. Será a ameaça séria? Como lidar durante os dias que antecedem o fatídico domingo?


John Michael McDonagh, irmão do diretor Martin Mcdonagh ( Six Shooter e Sete Psicopatas e um Shih Tzu ) é um nome que me chamou atenção após assistir ao sensacional "O Guarda". Esse filme, primeira realização dele, antes só era conhecido pelo roteiro de "Ned Kelly", é uma obra autoral, de alguém que realmente tem muito conteúdo para mostrar mas, elegantemente, não precisa ficar jogando na cara isso. Pautado em um humor negro maravilhoso, faz com que a história - toda desenvolvida nas ruas - beire o inacreditável. Sem contar a belíssima atuação do maravilhoso Brendan Gleeson, que com sua postura cômica nos prende do início ao fim.

Três anos depois, o diretor nos presenteia com "Calvary", também protagonizado pelo Brendan Gleeson, e eu começaria destacando a principal diferença: a densidade. Por algum motivo, que aqui tentarei descobrir, o clima do filme é uma constante tensão, fica claro que é proposital, é só olhar a sinopse do filme, mas ultrapassa esse limite, entrando em uma tensão sobre a igreja, influência e o quão humano somos, mesmo diante da nossa eterna tentativa de nos escondermos em baixo de "uniformes". Em determinado momento, inclusive, um personagem chama atenção do padre com uma pergunta sobre sua batina, ressaltando o seu tradicionalismo.



O filme começa já com um diálogo chocante, algo comum ao longo, onde um homem, no confessionário afirma que experimentou sêmen aos 7 anos, levantando um silêncio constrangedor, uma falta de reação do padre James. O moço, evidentemente perturbado, clama por atenção e questiona pela falta de resposta, no qual o padre retruca: Começar assim é um pouco assombroso, o que quer dizer de fato?

Essa resposta resume todo o filme, pois todas as afirmações e/ou reflexões ao longo, até do próprio padre, será feita diretamente, sem floreios, sustentados, claro, pelo humor negro, que já pode ser considerado marca do diretor. O moço do confessionário, então, explica que fora abusado por um padre aos 7 anos, recusando qualquer ajuda a superar, ou seja, preferiu viver com o segredo até encontrar um alvo para compartilhar a sua dor. 

Beleza, dado essa cena inicial, que não deixa de ser bem bizarra, confesso que tive que após terminar o filme, eu voltei tudo e assisti novamente, pois no fim percebemos que é encantadora. Pois através dela, o padre tem a oportunidade de repensar os seus métodos, o seu tratamento para com as pessoas. Aliás, os personagens que aparecem - e são bastantes! - tem uma enorme relevância, pois são os únicos pontos de ligação entre a cena inicial e o homem perdido ( padre ). 



O que mais chama a atenção, sem dúvida, é a questão da igreja e a relação que o padre James Lavelle tem com ela. Pois ele é um de seus representantes, mesmo que muitas vezes ele aja como um lobo solitário. Ou melhor, ele está muito longe de ser algo tradicional, e deve ser exatamente por isso que questiona sua fé/posição o tempo todo. Chora pelo cachorro morto, mas não pelos abusos a crianças, mas será que é justo resumir os atos da igreja em um só homem? Ou melhor, até que ponto termina o homem e começa a igreja?

O fato é que tem algumas questões que ultrapassam as barreiras de uma cidade pequena da Irlanda e invade o mundo. Há sarcasmo o tempo todo, muito relacionado com "casa de deus" como "será um dia negro quando a igreja não se interessar por dinheiro". Mas em nenhum momento são vazias, todas extremamente importantes para reflexões a caminho de um desfecho impactante. No fim, "se fala muito de pecado e pouco de virtude"


Obs: Vencedor do Prêmio do Júri Ecumênico no Festival de Berlim 2014 e de Melhor Filme do Ano e Melhor Ator (Brendan Gleeson) pela Academia Irlandesa de Cinema.

domingo, 14 de setembro de 2014

A Felicidade não se Compra, 1946


Há milhões de pessoas que amam esse filme, essa história, o natal etc. Eu queria, muito mais do que estar escrevendo, poder ouvir um pouco da história que cada pessoa tem para contar sobre a sua vida, cheia de aventuras e medos, que fatalmente caiu(irão) na temida rotina. Considero a rotina um grande problema para a vida, mas não espero que alguém consiga viver sem ela. Pelo contrário, se sua vida tem aventuras todos os dias, então a aventura se tornará uma rotina. Outra coisa é o seguinte, o ser humano nunca está satisfeito com as coisas, sempre poderia estar melhor, desde a aparência, passando pelo presente que ganha até chegar no maior presente de deus, a vida.

Não é para menos, nos colocaram nesse lugar de malucos e nem nos disseram qual era a nossa missão. Nem sabemos ao certo se existe alguma. Seria mais fácil se tivéssemos todas as respostas para nossa existência, assim os grandes homens poderiam parar com tantas guerras e se preocupar com eles mesmos. Engraçado, olhando dessa forma eu acredito que a própria guerra é uma forma de suavizar uma grande e interminável busca por respostas. 

Agora vou olhar para algo bem menos universal mas de suma importância chamado Emerson Teixeira Lima, ou melhor, eu. Passei muitos anos da minha vida tentando entender qual era o meu objetivo, muito por que meu presente me dizia sempre que não sabia fazer nada. O vazio, muitas vezes, é a pior dor que existe e "sofrer por nada" é sofrer duas vezes pois, se não bastasse o sofrimento por nada, você ainda sofre por se achar injusto por o fazer por algo tão banal, como se o mundo fosse te julgar por isso. Como se fosse proibido ser triste só por ser. Mas vamos combinar que sempre existe um motivo, não é mesmo?


Já pensei diversas vezes em me matar, ou até mesmo imaginar se as pessoas sentiriam a minha falta se eu partisse. Quase parti, confesso. Mas parece que tudo o que queria estava sendo preparado para mim, e eu só estava muito ansioso para o grande momento. Talvez um anjo tenha me dito isso e eu, cético que sou, não acreditei. O que quero dizer é que anjos existem, eles estão em toda parte. Sem poderes mágicos, somente o poder de estar perto. Muitas vezes isso é mais que o suficiente.

Assisti "A Felicidade não se Compra" com uns 15 anos. Sem nenhum motivo aparente, mas, como já disse, sempre existe um motivo. Acompanhar aquele homem de coração tão grande que mal cabe no próprio corpo foi simplesmente o que eu precisava. Sua ansiedade em conhecer o mundo, sair do lugar que estava me causou um sentimento de identificação tão grande que no meu peito faltava ar, de tanta emoção. Sabe quando você sente uma dor enorme mas em nenhum momento grita um palavrão para aliviar? Então, mais ou menos isso. Já nas primeiras cenas foi-me entregue um presente. O filme poderia acabar com 30 minutos, a sua mensagem já estava entregue. 

Quando George Bailey conversa na mesa com o seu pai, explicando que o seu sonho é fazer muito mais do que ficar em um escritório é de um carinho tamanho que faz me sentir inútil em tentar explicar. O seu pai, sábio, responde dizendo que faz grandes coisas, pois é inerente ao ser querer um lugarzinho para viver, uma proteção para a família. Na verdade, eles fazem muito mais, pois fazem com amor e entrega. Tudo fica maravilhoso quando há verdade, sinceridade e humildade. 

É claro que o  George entendeu o recado do pai que, por sinal, resume o filme todo. "faça o melhor com o que tem, independente de onde esteja". O filme coincidentemente aborda o natal, mas não faz dele uma necessidade para a trama. Pouco importa a data, a única coisa que importa é a verdade do fazer o bem. Mas me soa muito bonito remeter essa obra abençoada ao natal, pois é realmente um momento onde as pessoas estão abertas, onde o carinho se faz presente, pena que muito dele é falso e/ou momentâneo mas... enfim, eu ainda tento acreditar que há famílias que se renovam a cada ano, nessa exata data e isso me faz feliz de alguma forma.

Quando disse que existe muitos anjos por ai, isso pode ser ilustrado com o filme, onde George Bailey se apresenta como tal durante todo o momento que o acompanhamos. Ora, ele só não tem asas ainda, mas ajudou várias pessoas, diretamente ou não, ele representa todos nós e nossas respectivas importâncias para com o meio. E como fica feliz esse meio com a nossa ajuda. Deixando sua vida de lado para se preocupar com problemas alheios, George nos mostra que os problemas alheios podem, muito bem, ser nossos também. Forte e destemido quando jovem, ele dá lugar à um pai. Se outrora trazia a lua para sua amada, ele passa a questionar sua sanidade por ter escolhido ele.


As pessoas nos escolhe o tempo todo, nós escolhemos as pessoas e, muitas vezes, a melhor escolha está do nosso lado. Só estamos preocupados demais para entender isso. É difícil encontrar alguém que te entenda, que as horas passem devagar, que pisar na grama não seja um problema assim tão grande. A beleza sempre está nos olhos de quem vê/sente.

Finalizando, eu digo que dei espaço para uma nova versão de mim, hoje eu tenho certeza que tento fazer o bem de todas maneiras. Fazer com que o choro dê lugar ao sorriso, e ser agradecido por isso realmente não tem preço. Faço de todos os dias um natal especial, onde tento preencher de todas as maneiras os vazios, com muito carinho e respeito. Talvez eu pensa que estou fazendo isso para mim mesmo, constantemente. Pois entender do vazio faz com que você lide bem com ele, e isso é realmente significativo nos últimos tempos. 

Enfim, ao assistir "A Felicidade não se Compra" no cinema, eu parei, me olhei, assim como os anjos do filme, e pude perceber que aquele jovem com medo de se assumir um apaixonado pela vida não existe mais. No fim, as histórias são tudo o que temos, e merecem ser compartilhadas. 

sábado, 13 de setembro de 2014

Lucy, 2014


Será que seria justo começar meu texto refletindo sobre o quanto "Lucy" tem a cara da Angelina Jolie? Depois que sai da sessão fui procurar informações sobre e soube que ela era uma das cotadas inicialmente, mesmo que o diretor tenha desmentido. O fato é que eu tenho uma certa dificuldade em aceitar a bonita - mas não mais que isso- Scarlett Johansson em filmes de ação. Não sei, talvez por eu ter começado a acompanhar o seu trabalho com dramas independentes como "Mundo Cão", ou até mesmo os que ela fez com Woody Allen, isso faz com que eu a veja sempre como a sensual, mas nada que envolva correria e "sou fodona, quase um Neo do Matrix".

Fui assistir "Lucy" por, somente, dois motivos: Luc Besson e, principalmente, Min-sik Choi. Sim, pode parecer estranho ou inútil isso, visto que ele não tem nem de longe o destaque do qual é capaz de sustentar, algo que fica claro desde o trailer, mas ter a oportunidade de vê-lo na telona foi simplesmente maravilhoso para mim que, honestamente, o admiro muito, inclusive o coloco como um dos maiores atores da atualidade. Ver ele de frente com Morgan Freeman foi realmente emocionante e, a título de curiosidade, eu sou mais Min-sik Choi do que ele, portanto creio que a honra era mesmo do Morgan. 

Morgan Freeman por sinal eu estou achando muito estranho esse ano, ele tá fazendo os mesmos personagens, em "Transcendence" ele faz a mesma merda. A única coisa diferente aqui é aquela cagação de história da humanidade, reflexões e etc. Falando sério, eu só queria ver o pau comer, não estava nem ai para essa filosofia toda, por mais que achei interessante no final quando, estranhamente, nossa heroína do título percorre toda a história da humanidade em segundos, levantando a questão da fragilidade do tempo. Mas, na boa, frágil mesmo é o filme, que é muito água com açucar, nem bom nem ruim, passa rápido e não acrescenta muita coisa, claro que afirmo isso pensando em um filme de ação, que não tem obrigação nenhuma em trazer algum existencialismo. 

Talvez esteja um pouco cansado dessa coisa de cérebro, aquele "Sem Limites" é praticamente a mesma coisa, só que diferentemente deste, ele não fica tentando ser maior do que realmente é. Então se quer cérebro, 10% e afins, vá para "Sem Limites", sem dúvida nenhuma.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Catfish, 2010


Esse documentário mexeu comigo por inúmeros motivos, dentre eles o meu próprio vício a tecnologia. Não, não me entendo como um "expert" no assunto, um geek ou algo parecido, mas no mesmo tempo me considero sim um dependente. Tudo que faço hoje se mistura a tecnologia, inclusive meu trabalho. Voltando a fita um pouco o meu dia-a-dia é cheio de internet, Whatsapp, Facebook, Twitter, Blogger, são ferramentas que eu utilizo com uma certa frequência e, todas elas, me direcionam para um mesmo ponto: não me sentir só.

Não que eu seja um cara altamente recluso, ando percebendo que até mesmo os, outrora, populares, se desprenderam do toque e estão medindo suas ditas popularidades com curtidas virtuais, ou seja, o teu sucesso independe do que é na realidade e sim o que tem a oferecer no seu espaço virtual, como se ela fosse uma extensão do seu ser, melhor ainda, o seu cartão de visitas.

Estaria sendo realista - ou pessimista - se afirmasse que, hoje em dia, a maioria das relações estão sendo construídas em base a internet? Não sei, só sei que conheci pessoas incríveis pela internet, pessoas que eu posso confiar, que me ajudaram de uma forma ou de outra e, acima de tudo, me ajudaram a não estar sozinho, enquanto o assunto é cinema. 

Então, foda-se, confesso que sou um dependente. 


Por essas e outras, é fácil imaginar que muitos mantiveram uma relação virtual, sendo assim, é bem provável que o documentário te conquiste logo no seu início. Já começa então o meu fascínio pelo mesmo, o poder do documentário, registro de coisas simples mas, partindo de uma sensibilidade, pode se transformar em uma obra de arte. E é basicamente isso que gostaria de destacar nesse texto, a que se deve a relação do Nev com Megan, como visto ao longo, através da arte.

Nev é um artista, enxerga o ser humano, indiferente a sua figura física, se encanta pela, inicialmente, artista com quem troca olhares - no caso a Abby. Ela manda pinturas baseadas em suas fotografias, o que quero dizer é que se não fosse pela sensibilidade e entrega do Nev não existiria documentário. É claro que isso tira a sua racionalidade - quem nunca a perdeu em algum momento? - mas ele está realmente entregue aos seus sentimentos, independente do modo que está diante dele, ou seja, um sentimento virtual.

Além do mais, a mentira verdadeira da perdida "Megan" me fez relacionar imediatamente com "Close-up" do Abbas Kiarostami, onde o filme deixa a reflexão sobre o quanto uma mentira pode ser considerada arte, isso não quer dizer que qualquer mentira possa ser interpretada assim, mas há uma separação entre maldade e vazio. O vazio faz-nos pensar em coisas loucas, como o passado, aquele mesmo que aprisiona constantemente nosso presente,  de forma que os demônios do "E se" nunca parem de sussurrar nos nossos ouvidos coisas que poderiam ser diferente.

"E se" eu escolhesse ele e não esse?
"E se" eu fosse mesmo morar naquele lugar?
"E se" eu tivesse ficado grávida?
"E se", "E se", "E Se"...

"Megan" - e vou chamá-la assim pois é isso que ela queria mesmo ser - é apenas um fragmento desse "e se". O vazio cria demônios. O vazio cria arte.

"Muitos personagens que surgiram foram apenas fragmentos de mim"

Essa questão esteve e sempre estará presente na nossa vida, do quão criaremos sobre nós mesmos para sermos aceitos pela sociedade. O que me encanta na obra em questão é o amor do protagonista - se é que existe algum. Ele em nenhum momento a julga, pelo contrário, se envolve, de forma que possa gritar que, no fundo, ama a pessoa independente do quanto ela seja irreal. Ele estava diante de uma mentirosa, mas, ali para o documentário, ela é uma artista, e sua mentira era sua grande obra de arte. Vazio.

Ora veja, se ela não se apresentasse como uma menina de 8 anos, será que chamaria atenção o suficiente para manter o contato? Qual será o motivo da nossa seletividade de atenção? 

Em um pano de fundo extremamente denso, me fazendo pensar até em algo sobrenatural, visto que a procura dele por ela parecia muito um filme de terror, talvez seja até pior. Percebemos com esse soco no estômago que a internet envolve muito mais que se expor para pessoas que não conhece, estamos diante a várias pessoas, com visões e atitudes diferentes. Eu mesmo, escrevo nesse blog há quase dois anos, recebo várias visitas diariamente, que por sinal não condizem com o número de comentários, então como posso saber quem é você que está lendo isso nesse exato momento?

Enfim, o vazio é algo realmente muito louco. Talvez a internet seja a verdadeira personificação dela. Abraço e "e se" eu tivesse escrito sobre outro filme?

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

#10 - Assisti na semana

Mais Que o Acaso, 2000


Buddy Amaral (Ben Affleck) é um bem-sucedido publicitário que, impedido de pegar um vôo, cede seu assento a um desconhecido, poucos minutos antes da decolagem. Porém, o avião sofre um acidente, matando todos os passageiros que nele estavam. Em crise de consciência por causa do ocorrido, Buddy decide ir conhecer a viúva (Gwyneth Paltrow) do estranho a quem cedera o assento. A partir de então, os dois se conhecem e iniciam um profundo relacionamento.

Honestamente não entendo muito bem o motivo da revolta de vários com o Ben Affleck, isso não quer dizer que eu acha ele um bom ator, muito pelo contrário, ele é irritante. O fato é que muitos outros atores me irritam, então não sei porque pegam tanto no pé dele. Mas enfim. 

Esse filme deveria ter um outro ator, ficaria um pouco mais agradável. Ele não tem química nenhuma com a Gwyneth Paltrow, não consigo imaginar esse cara tendo "química" com ninguém, que não seja o Matt Damon. Que por sinal é loiro também, vejam só. 

Então, estou eu aqui escrevendo coisa com coisa porque o filme é isso, basicamente, coisa com coisa. Já vimos essa história, contada de uma outra maneira, sem o tal do avião mas com a mesma culpa. É legalzinho? Sim, para assistir quando não tiver mais N.A.D.A para ver. Muito mela cueca sem sentido, poderia ser muito melhor explorado, principalmente a culpa mesmo. 

Nota: 2/5

Menina Má.Com, 2005


Hayley Stark (Ellen Page) é uma adolescente, que está conversando em um café com Jeff Kohlver (Patrick Wilson), um homem que conheceu pela internet. Jeff é um fotógrafo em torno de 30 anos, o que não a impede de sugerir que ambos fossem à casa dele. Lá Hayley encontra uma garrafa de vodka e começa a preparar alguns drinks, sugerindo em seguida uma sessão de fotos em que ela faria um strip-tease. Jeff se empolga com a idéia, mas logo sua visão fica embaçada e ele desmaia. Ao acordar ele está amarrado em uma cadeira e descobre que Hayley tinha colocado algo em sua bebida. Hayley começa a vasculhar a casa de Jeff, decidida a encontrar algo que o ligue a Dona Mauer, uma adolescente desaparecida há semanas. Mas caso não encontre alguma prova nem ele queira confessar, Hayley está decidida a usar outros meios para conseguir a informação que deseja.

Faz tempo que queria ver esse filme, muito, digo, só por causa do tema, que encolvia pedofilia. E eu adoro um filme polêmico. Assisti e nada. Não vi polêmica, nem algo que me chamasse muito a atenção. Não que eu tenha caído em uma cilada chamado expectativa, até porque eu não a tenho com filmes assim, simplesmente não me pegou da maneira que pegou várias pessoas, visto que muitos me recomendaram.

A vingança dela foi meio infantil, meio nada a ver. Atuação não achei essa maravilha toda, quem se destaca mesmo é o Patrick Wilson. Eu gostaria de ver o filme tema com um filme coreano, ai sim ia ser interessante, ver a garota cortando as bolas do cara, muito sangue, seria um atrativo a mais. Um filme que você começa assim > O_o e termina assim > O_o

Nota: 2/5

Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto, 2007



Nova York. Andrew "Andy" Hanson (Philip Seymour Hoffman) é um viciado em drogas cuja carreira de executivo está desmoronando. Para se livrar de uma auditoria, que demonstrará graves problemas na sua área, convence o irmão Hank (Ethan Hawke), que também tem problemas financeiros (deve três meses da pensão da sua filha, cuja guarda está com a ex-mulher), a assaltar a joalheria dos pais deles, Charles (Albert Finney) e Nanette (Rosemary Harris). O plano parece fácil, pois eles conhecem bem o funcionamento do lugar. Na hora da ação, os dois esperavam encontrar apenas uma idosa funcionária, mas sua mãe aparece de surpresa na hora do roubo. O cúmplice de Hank acaba ferindo-a tão gravemente que ela, apesar de não falecer, é considerada clinicamente morta. Charles jura se vingar a qualquer custo dos culpados, sem saber que está à caça de seus próprios filhos. Agora os dois irmãos precisarão lidar com as repercussões do seu trágico plano.

Como é bom assistir algo do grande Philip Seymour Hoffman, um dos meus atores preferidos, sua voz, sua postura elegante são fascinantes. Ainda mais quando lhe entregam papeis como esse. Exige muito dos atores, não só ele como o Ethan Hawke que, de todos, é o que mais se destaca aqui. Talvez porque seja o pilar dessa história cheia de falhas.

O limite da ganância, os diálogos dos dois irmãos, são coisas muito bem construídas aqui, uma direção espetacular de ninguém menos que Sidney Lumet. 

Nota: 4/5



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