domingo, 17 de agosto de 2014

We are the Best!, 2013


É impossível terminar de assistir "We are the Best" e não ter uma rápida vontade de raspar a cabeça, viver desprendido de várias correntes, como o próprio consumismo ou a "cafonice" de ser uma pessoa normal. Logo caímos, ou melhor, cai, por terra e descobri que existe um punk dentro de cada um de nós, não aquele que diz respeito ao gênero musical, muito menos aquela ignorância que te faz bater no peito e gritar: Vejam o quanto minha tribo é superior que a de vocês! Não, o punk atitude, o punk que se ouve e, sendo assim, sentida aos poucos, se revela uma arte adorável. Tão doce quanto Mozart. Ora veja, caro amigo(a), Mozart pode ser muito bem um punk, um vovô do rock, visto que é música, visto que é arte - atitude.

Doçura na voz de Hedvig, na sua versão espetacular de "sex noll två" música do KSMB, a qual, graças essa pequena grande obra, pude conhecer e me deliciar por, simplesmente, me fazer lembrar dessas três protagonistas, Hedvig, Bobo, Klara e Lukas, Lukas Moodysson. Opa, espera, eu disse três, me desculpem, eu quis dizer quatro. Afinal, Lukas é uma grande mulher-menina que entende muito das meninas-mulheres, as vezes muito mais do que as próprias mulheres-mulher. Lukas Moodysson é um presente, cria da arte, assim como seu último filme aborda filhas de um único elemento, a música.

O olhar das suas câmeras está de volta, meio frenético, meio focado e desfocado, meio aqui e lá, Lukas volta as raízes de um cinema por qual me apaixonei quando, oras bolas, ainda tentava me imaginar como um adulto, nos auges dos meus 13 anos conheci Lukas, ou melhor, ele me conheceu. Me conheceu e me apresentou, junto a outros grandes nomes, o cinema independente, a arte independente. Aquela que você faz porque quer dizer alguma coisa, diferentemente da grande indústria, que faz de alguma coisa um grande nada. Falando em grande nada, cada filme do querido Lukas é uma sensação diferente, "4-Ever Lilya" retratava o abandono de uma "nada" que, após descobrir por si só, se mata, ou melhor, começa a viver. O abandono está claro no seus filmes, até mesmo nesse último, mesmo que o abandonado seja a postura familiar e não as crianças, como visto anteriormente em seu trabalho. 


Personagens bem trabalhados por uma pessoa que sempre se dedica a experimentar. Não sabe do que estou falando? Assista "Container". Esse filme é uma bizarrice só. Quase um monólogo de um senhor(a) chamado vazio. Preto e branco, lento e, para alguns, chato, é uma grande experiência. Não tão grande como a escolha sexual talvez, aliás, nunca seria tão importante quanto. Em "Amigas de Colégio" temos uma escolha, banhada em muito realismo, sim, realismo do jovem. O beijo dentro do carro, que coisa mais linda. Beijo para Lukas nunca é por nada, assim como o sexo não é só nojento em "Um Vazio no Meu Coração". 

"We are the Best" ou "Nós somos os Melhores", como ficou a tradução, pode ser muito bem entendido como uma experiência pura e simplista de aproveitar a inquietação de crescer. Buscamos incansavelmente todos os dias meios para nos assumir, qualquer que seja nosso segredo. O visual transgressor e a alma punk, são pequenas coisas perto de duas meninas ( Klara e Bobo ) que, no seu interior, tem tanto a gritar para o mundo. A música é a mãe delas, o que une ambas a um terceiro e, ao meu ver, mais importante ponto do filme: Hedvig. Ela se apresenta como uma entidade artística. Portanto aberta a novos pontos de vistas, preparada para passar adiante o que sabe e aprender aquilo que necessita tanto, a bendita atitude. Como conquistamos ela, senão, pela influência? 

Como disse, a música é o pontapé para a unificação de ideias e ideais tão diferentes. Uma cristã, uma agnóstica e outra atéia. Não que essa questão seja explorada ao máximo, apenas fica evidente uma certa reflexão e/ou deboche, que não é basicamente feita em base a certezas mas, como tudo nesse filme, por dúvidas. Fica claro isso quando a Klara desabafa que "Eu não acredito em Deus. Eu acredito em ketchup. É a melhor coisa que existe.


Enfim, é interessante notar que, apesar das certezas que cercam as três protagonistas, a construção, um tanto complexa delas, nos remete a todo instante que são crianças, que nada sabem da vida, senão, tudo. Se o objetivo é comprar uma guitarra, basta gastar o pouco do dinheiro que tem com... doces. Esse é um exemplo de muitos de que, a banda "We are the Best" é movida pelos insultos do mundo para o seu comportamento, digamos, diferente. E não é isso que fazemos todos os dias? Acreditamos fielmente que, dentre todas as pessoas, nós somos os mais loucos. #Somostodospunks

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