terça-feira, 8 de julho de 2014

Monstros


Ela é tão linda, doce sentimento efêmero. Causando sufocamento em meu coração, por não saber dizer em palavras o que se passa pela minha cabeça. O olhar abusado, longe de qualquer verdade, faz com que o pobre garoto se sinta abandonado por ser apenas um, dentre tantos. Não que ele seja anormal, simplesmente desconhece a ordem dos fatos, a ordem dos sentimentos, se é que existe alguma, meu caro amigo.

Estava sentado na praça, olhando para as pessoas e me veio a cabeça o quanto elas são superficiais. Seus olhares não demonstram o que são, tampouco o que sentem. Olhares que são, que vão, mas que jamais foram. Olhar cauteloso, inabalável, incontestável, equilibrado e egocêntrico. A vida passa depressa demais, assim como o olhar, que se direciona e se distância mais rápido que um sorriso.

Cavalheiro ressereno, buscando na amada a esperança nela mesma. Guiando-a, tratando-a com carinho e delicadeza. Extrai o seu melhor, para ver o melhor. Se construindo aos poucos, peça por peça, nesse grande quebra cabeça deixado de baixo da cama. Como um bicho papão. Aliás, esse monstro, do qual teimam chamar de papão, se sente infeliz constantemente, pois só queria brincar com a criança, mas ela o teme. Como se fosse de outro mundo, tivesse outras necessidades, como se a aparência transformasse a possível amizade em destruição. Pobre menina, está perdendo o melhor, do melhor monstro.

O palhaço vai descobrindo o seu sepulcro aos poucos, transformando sua vida de fazer rir em fazer chorar. Não que faça alguma diferença, visto que ele sempre foi e sempre será só o palhaço que sempre ajuda mas nunca será ajudado. A dor que ele sente é tão forte que cortou as laterais da sua boca, para rir constantemente, forçando uma origem que se perdeu. Esquecida e irreparável, um homem do riso que um dia se apaixonou platonicamente e, por essa mesma razão, se excluiu, pois viu que a conquista não era para ele, que não tinha coragem de falar para a sua princesa o que ela lhe causava. Um frio na barriga, uma vontade de morder - sem machucar - as suas bochechas rosadas. Há! Como seria bom se ele pudesse colocar um óculos escuro e, como em um passe de mágica, ter coragem para convidar ela para tomar um suco. Mas, pobre palhaço, nem mesmo com sua maquiagem consegue o fazer.

O filho sai de casa, quer morar nas ruas. Para fazer a única coisa que sabe: Cantar. Mas ele não é um exímio cantor, pobre menino, se perdeu em sua própria inocência. Por outro lado suas letras encantam quem passa por ele. Falam constantemente de amor e estar perdido, a procura de compartilhar. Certo dia passa por ele uma jovem, pele branca e cabelos pretos, seus olhos ficaram vidrados e o seu sorriso se mostrou conforme o ritmo doce da composição. Ela se apaixonou, não pelo menino, nem por sua voz, mas pelo que ele tem a dizer. Como se conhecesse aquelas letras, aqueles demônios. Como se soubesse que poderia ajudá-lo. Ela então, em um nobre gesto, roubou a única coisa que o menino tinha: Suas folhas. Fazendo com que não restasse nada. Ele, então, voltou para casa. E ela jamais o esqueceu.

Há uma criança, escondida nas colinas, que nasceu para guiar os homens. Ela ainda não sabe, mas sente constantemente que sua missão é diferente de todos os que conhece. Ela adora ver os pássaros voarem, o som que eles fazem. Ela tem um carinho muito forte, tácito, por alguém que ainda não encontrou. Ela sonhou com ele durante anos, sua forma era distorcida, mas sempre teve certeza que se, por acaso, o encontrasse na rua, o reconheceria imediatamente. Seu amor que ainda não existe, pelo menos não no seu mundo, mas que ela já conhece há muito tempo, como se soubesse que, na vida anterior, ambos foram pássaros que se amaram muito. 

- Emerson Teixeira Lima

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