terça-feira, 25 de março de 2014

O Canibal ( 2006 )


Obs: Para o entendimento do texto, seria interessante dar uma lida na história da qual o filme foi baseado. Levando em conta que o relato é extremamente perturbador, assim como o site que indicarei: http://www.issoebizarro.com/blog/mundo-bizarro/armin-meiwes-o-canibal-alemao/. NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 18 ANOS!!!!

Eu não faço parte daquelas pessoas que se chocam facilmente. Não sei o quão relevante é, para o texto que desenvolverei, essa afirmação, mas eu "cresci" assistindo os filmes do Gaspar Noé, então a realidade banal fora jogado na minha cara inúmeras vezes. Claro, por visitar com frequência esse submundo do cinema, posso dizer que aprendi a respeitar as diversas necessidades que existem, seja sexual ou não. Enfim, há uma diferença entre aceitar e saber que existe. Assim como há uma diferença entre falar abertamente e concordar com tais atos. A única coisa que eu tenho certeza é que sabemos muito pouco sobre as bizarrices que acontecem todos os dias, muita coisa fica guardada, secreta, pois nós ainda temos a ilusão de que vivemos em um "semi-paraíso protegido por Deus", enquanto, na verdade, estamos simplesmente no inferno mesmo, queimando e sendo queimados. 


A proposta aqui é um pouco diferente, quero ser um pouco mais imparcial do que costumo ser, e ajudar a levantar as questões abordadas no filme. As quais, por sinal, eu me fiz na época em que conheci o caso do tão famoso "açougueiro mestre". É válido começar dizendo, que o primeiro contato que tive com essa história foi com a banda alemã Rammstein, do qual sou fã, com a música "Mein Teil". Se pegarmos o contexto, o título significaria algo como "meu pênis", mas não se enganem, pois a tradução exata é basicamente "minha carne" ou "minha ferramenta". O que não importa muito, porque o pênis/pinto/pau/bilau/caralho etc é ferramenta, é carne, é vida (?)

O que é vida? O que é carne? E, principalmente, qual a diferença entre o ser humano e os outros animais? Eu não tenho conhecimento o bastante para afirmar se existe canibalismo no reino animal aquela que parta de uma vontade constante, claro que o fator sobrevivência modifica tudo. O que quero dizer é: Os animais são melhores que seres humanos. Não que o homem seja um ser dispensável - mesmo que o seja a maioria das vezes - mas a nossa espécie é cercada de uma desmotivação gritante. O homem devora o homem, desde sempre. A começar pelo julgamento de valor, em base as opções sexuais e banalização do sentimento. É muito fácil se sentir sozinho e, através desse sentimento, o homem explora o seu lado mais sombrio. Se tornando assim um bicho. E olha que essa afirmação ainda insulta todos os bichos.


 Nunca acreditei em céu ou inferno, essa ideia da vida eterna - por mais que seja extremamente aconchegante - nunca fez parte do meu repertório de imaginações. Por outro lado, eu uso muito a religião para nos explicarmos, é tanto que acabei me transformando em um "ateu religioso" ( eu sei, trai o movimento ), não acredito em um Deus cristão, acredito no amor. Até mesmo quando só há dor. Até mesmo nas sombras.

Existe amor na falta de amor. Existe amor na morte e no ato de matar. Na maioria das vezes não somos capazes de compreender isso ou aceitar. Mas as proporções são idênticas ao Deus, é tão difícil imaginar quanto. Sendo assim, tanto o inferno quanto o paraíso existe dentro de cada um e a vida eterna existe na arte de cada um. Qual arte? A arte de amar. Mesmo odiando.

O que faz com que eu enxergue o choque, como mais uma das diversas formas de expressões que existem. Para voltar ao ponto que coloquei no início, um dos diretores mais cordiais que eu conheço é justamente o Gaspar Noé. Reparem que o "senhor do choque" avisa os seus espectadores para sair das salas, provoca a identificação com o sexo anal em "Irreversível". Faz pensar. Existe muito amor no senso de realismo de Gaspar. E muito realismo no amor de Noé.

O gozo é a carne. A carne é o sexo. 


O açougueiro mestre, com o pênis nos dentes, fez com que a ideia do possuir chegasse ao extremo, infelizmente esse é somente um dos vários casos que ocorrem e ocorrerão sempre. Há algumas pessoas que querem devorar e outras serem devoradas, será que formam um casal perfeito? É certo que o filme tenta resgatar esses questionamentos, posicionando-se através do olhar de uma estrangeira, como se afirmasse que a curiosidade sobre a verdade não é exclusividade de um país, um lugar. Ela é uma personagem curiosa demais e se vê desiludida quando, finalmente, assiste o tão esperado vídeo. Pois tem certeza que todas suas possíveis reflexões filosóficas sobre o caso são inúteis. A crueldade humana não se desfaz com algumas palavras bonitas. Viva a verdade! A maldade habita uma prisão perpétua chamada vida.

No fim, "você é exatamente aquilo que come".

Texto levemente inspirado na música "Mein Teil"

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