terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Crianças… ( A-i-deul.. )


"Em 1950, o líder de um culto previu o fim do mundo. Dizia que o fim poderia chegar a qualquer momento, e que deveriam pagar o dízimo para serem salvos. Então os seus seguidores realmente esperavam o fim... e o dia chegou, 21 de dezembro de 1959. O que acham que aconteceu nesse dia? 
Nada. 
O interessante é que, quando descobriram que foi uma mentira, preferiram acreditar que sua fé tinha atrasado o dia do juízo, ao invés de acreditar que tinham sido enganados. Não aceitaram que erraram pois seu mundo teria desmoronado. Apegaram-se ainda mais a fé. A natureza humana é tão mutável."

O cinema Sul Coreano é, hoje, o mais comentado do mundo. Não por ser moda, ou algo do tipo, o país realmente passa por uma ascensão cultural muito grande, principalmente no audiovisual. Seus filmes são de uma qualidade inacreditável, destacando-se, não exclusivamente, pelos gêneros policiais e suspense. Mas há dramas sensacionais - e bota sensacional nisso.

É o caso, por exemplo, do delicado "Neukdae Sonyeon" que consegue, mesmo abordando um tema clichê e alvo de piadas ( saga Crepúsculo, eca ) ser extremamente bacana de se assistir. E, confesso, eu me emocionei muito. Não é só isso, tem dramas, animações, como o "Tsunami", enfim, é uma infinidade de opções para quem quer se aventurar em uma linguagem completamente diferente e, no mesmo tempo, tão próxima daquela que estamos acostumados. 

Vale ressaltar que a Coreia do Sul vê os seus próprios filmes e isso, caro amigo e amiga, muda tudo. Procura por parte do povo leva à estrutura e profissionalismo. O que entretêm as famílias lá é de uma enorme entrega e, honestamente, isso enche o meu coração de alegria.

Crianças… ( A-i-deul.. )


Filme de 2011, dirigido pelo Kyoo-man Lee ( o qual eu desconhecia ) é a confirmação do que escrevi acima. Usando como tema um assunto muito conhecido e discutido, até no recente "Os Suspeitos", ele se concentra na investigação de um caso, onde cinco crianças sumiram após terem ido caçar salamandras no Monte Waryong, é cogitado, e bem provável, que estes garotos nem chegaram no destino. Aliás, é baseado em fatos reais.

Temos então um detetive que se une à um professor de uma universidade e, juntos, procuram entender o que aconteceu. Mas deixam-se levar pelas suas próprias crenças e ilusões, fazendo com que, mesmo que bem escondido na trama, a procura das crianças se perca em meio a procura do reconhecimento.

O professor tem ideias estranhas, parece que está a todo momento indiferente aquela situação. Eu enxerguei esse personagem como um adorador das respostas. Mas, em uma situação real do desespero, resposta pode não significar nada. Esse ponto é justamente o que me deu sono, principalmente a primeira metade do filme. Ficou algo confuso na minha cabeça, apesar das inúmeras tentativas de encontrar alguma coisa, me pareceu existir um "desdém" por parte de todos e, unido a isso, não temos muito contato com a família dos garotos. O que vamos entender na metade final, onde finalmente eu joguei o meu sono no lixo e prestei atenção.


Toda a sua narrativa lenta e momentos forçados - como os cálculos esquisitos do professor doidão - dão lugar a um choque grande. Não é nenhuma surpresa ou alguma coisa jamais vista, mas é triste. A "descoberta" nem é o que vale a pena porque, convenhamos, eu já tinha descoberto desde o início do filme, mas tem um novo elemento que mexe com qualquer ser humano: Família.

Entra em cena as consequências daquele caso nas famílias, a fragilidade que toma conta, principalmente, das mães. Além do mais, eles foram alvos de desconfiança dos investigadores, que teimavam em afirmar que algum pai estava envolvido no desaparecimento das crianças. É então que percebemos que o filme tinha ignorado a família pois a sociedade egoísta ignora a família.  Fica claro isso. Policiais corruptos, imprensa manipuladora etc. Precisamos de matérias. Sentimentos não vendem.


As famílias sofriam caladas, deixando claro que tudo isso se passa em 10 anos, e é isso. A única atenção especial era para os "investigadores", para os heróis fabricados. Ironia é que, a primeira cena do filme é um dos garotos correndo com uma capa vermelha, remetendo imediatamente ao Super Homem/Superman/Super. Ai, ai, como existem super hoje em dia, super professor, super policial, super jornalista, super, super, super. Esquecemos, infelizmente, das super mães, dos super filhos, das super famílias, dos super amores e das super perdas.


É, a vida é uma grande ironia. E o super é uma capa vermelha que nos faz crer na mentira. A natureza é mutável...

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