terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Crianças… ( A-i-deul.. )


"Em 1950, o líder de um culto previu o fim do mundo. Dizia que o fim poderia chegar a qualquer momento, e que deveriam pagar o dízimo para serem salvos. Então os seus seguidores realmente esperavam o fim... e o dia chegou, 21 de dezembro de 1959. O que acham que aconteceu nesse dia? 
Nada. 
O interessante é que, quando descobriram que foi uma mentira, preferiram acreditar que sua fé tinha atrasado o dia do juízo, ao invés de acreditar que tinham sido enganados. Não aceitaram que erraram pois seu mundo teria desmoronado. Apegaram-se ainda mais a fé. A natureza humana é tão mutável."

O cinema Sul Coreano é, hoje, o mais comentado do mundo. Não por ser moda, ou algo do tipo, o país realmente passa por uma ascensão cultural muito grande, principalmente no audiovisual. Seus filmes são de uma qualidade inacreditável, destacando-se, não exclusivamente, pelos gêneros policiais e suspense. Mas há dramas sensacionais - e bota sensacional nisso.

É o caso, por exemplo, do delicado "Neukdae Sonyeon" que consegue, mesmo abordando um tema clichê e alvo de piadas ( saga Crepúsculo, eca ) ser extremamente bacana de se assistir. E, confesso, eu me emocionei muito. Não é só isso, tem dramas, animações, como o "Tsunami", enfim, é uma infinidade de opções para quem quer se aventurar em uma linguagem completamente diferente e, no mesmo tempo, tão próxima daquela que estamos acostumados. 

Vale ressaltar que a Coreia do Sul vê os seus próprios filmes e isso, caro amigo e amiga, muda tudo. Procura por parte do povo leva à estrutura e profissionalismo. O que entretêm as famílias lá é de uma enorme entrega e, honestamente, isso enche o meu coração de alegria.

Crianças… ( A-i-deul.. )


Filme de 2011, dirigido pelo Kyoo-man Lee ( o qual eu desconhecia ) é a confirmação do que escrevi acima. Usando como tema um assunto muito conhecido e discutido, até no recente "Os Suspeitos", ele se concentra na investigação de um caso, onde cinco crianças sumiram após terem ido caçar salamandras no Monte Waryong, é cogitado, e bem provável, que estes garotos nem chegaram no destino. Aliás, é baseado em fatos reais.

Temos então um detetive que se une à um professor de uma universidade e, juntos, procuram entender o que aconteceu. Mas deixam-se levar pelas suas próprias crenças e ilusões, fazendo com que, mesmo que bem escondido na trama, a procura das crianças se perca em meio a procura do reconhecimento.

O professor tem ideias estranhas, parece que está a todo momento indiferente aquela situação. Eu enxerguei esse personagem como um adorador das respostas. Mas, em uma situação real do desespero, resposta pode não significar nada. Esse ponto é justamente o que me deu sono, principalmente a primeira metade do filme. Ficou algo confuso na minha cabeça, apesar das inúmeras tentativas de encontrar alguma coisa, me pareceu existir um "desdém" por parte de todos e, unido a isso, não temos muito contato com a família dos garotos. O que vamos entender na metade final, onde finalmente eu joguei o meu sono no lixo e prestei atenção.


Toda a sua narrativa lenta e momentos forçados - como os cálculos esquisitos do professor doidão - dão lugar a um choque grande. Não é nenhuma surpresa ou alguma coisa jamais vista, mas é triste. A "descoberta" nem é o que vale a pena porque, convenhamos, eu já tinha descoberto desde o início do filme, mas tem um novo elemento que mexe com qualquer ser humano: Família.

Entra em cena as consequências daquele caso nas famílias, a fragilidade que toma conta, principalmente, das mães. Além do mais, eles foram alvos de desconfiança dos investigadores, que teimavam em afirmar que algum pai estava envolvido no desaparecimento das crianças. É então que percebemos que o filme tinha ignorado a família pois a sociedade egoísta ignora a família.  Fica claro isso. Policiais corruptos, imprensa manipuladora etc. Precisamos de matérias. Sentimentos não vendem.


As famílias sofriam caladas, deixando claro que tudo isso se passa em 10 anos, e é isso. A única atenção especial era para os "investigadores", para os heróis fabricados. Ironia é que, a primeira cena do filme é um dos garotos correndo com uma capa vermelha, remetendo imediatamente ao Super Homem/Superman/Super. Ai, ai, como existem super hoje em dia, super professor, super policial, super jornalista, super, super, super. Esquecemos, infelizmente, das super mães, dos super filhos, das super famílias, dos super amores e das super perdas.


É, a vida é uma grande ironia. E o super é uma capa vermelha que nos faz crer na mentira. A natureza é mutável...

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Cinema Paradiso


Minha vida sempre foi movida pelo audiovisual, lembro que passava o dia assistindo desenhos, séries e filmes, isso já aos 5 anos. Zorro, aquela série antiga, eu amava. E vários outros clássicos como A Bela e a Fera, O Rei Leão, os filmes da sessão da tarde... Engraçado, tinha um em especial que eu amava: Rambo.

Sim, é realmente bizarro uma criança gostar, é mesmo. Mas comigo era diferente pois eu era obcecado, toda vez que ia na casa do meu tio eu pedia para ele colocar a fita, meu tio, por sinal, tinha uma coleção extensa de fitas, eu amava brincar com elas. Tinha até filmes gore que eu lembro muito bem. Então meu tio me ensinou a gostar de filmes de ação, junto com o meu pai.

Meu pai, bem ausente no quesito sentimento, me faz relacioná-lo até hoje com os nossos pequenos momentos assistindo Bruce Lee, Charles Bronson e Van Damme. Misturado a toda essa dose de testosterona, minha mãe era ( é ) minha companheira da sessão da tarde. Aqueles filmes geniais como De Volta para o Futuro, Mãos de Tesoura, Lagoa Azul, enfim, como eu aprendi. Seja pelos próprios filmes que me deliciava, ou com os momentos que o envolviam. Minha mãe está até hoje nessa comigo, cinema se tornou uma ligação extremamente significativa na nossa vida, e eu diria que é o que me liga com todas as outras pessoas. 

Passando o tempo, mudanças me transformaram e o cinema foi, aos poucos, esquecido. Aquela magia da sessão da tarde não me encantava como antes, meu coração não correspondia com a mesma inocência. Enfim, fui crescendo. Em um momento difícil, aos treze anos, encontrei um filme chamado "Magnólia", até hoje não entendo como encontrei essa obra que fala sobre o amor e religião, no seu sentido mais profundo, se ligar ao outro. Ainda incapaz de entender tudo o que o filme tenta passar, aliás, até hoje me sinto incapaz, me tornei realmente uma criança "brincando de se encantar", por isso pesquisei os outros trabalhos do Philip Hoffman, Julianne Moore, William H. Macy, Melora Walters, Tom Cruise, John C. Reilly e, claro, do diretor Paul Thomas Anderson.

Me dediquei na profissão de pesquisador do cinema pouco conhecido, acho que queria assistir aqueles que não tinha muita voz. Me identifiquei com os gritos e desabafos do Todd Solondz, Wes Anderson, Gaspar Noé, Woody Allen, Dorota Kedzierzawska, Lukas Moodysson, Abbas Kiarostami, Jafah Panahi, e tantos outros nomes. Ia ao cinema, sozinho, e chorava com a grandiosidade do sentimento que despertava no meu coração, um sentimento tão forte de se estar entregue e ser visto. Nem que seja por uma tela gigante, com pessoas/atores igualmente gigantes. Tudo era muito grande para mim, pobre garoto, muito pequeno.

Não sei mais se escolhi o cinema, ou ele me escolheu. Não sei mais se ele é audiovisual ou eu sou. Me sinto como uma grande produção, com o carinho de um criador que só quer contar a sua história. Respiro cinema mesmo quando nada está relacionado à ele ( ou sempre está? ) encontrei nessa arte a junção das demais, o meio mais rápido para entrar em contato com uma outra cultura, um outro olhar, uma outra vontade, uma outra necessidade. Necessito, hoje, do cinema, de pessoa. Muito mais do que sentar e ouvir eu anseio por gritar tudo o que sinto. Aprendi que a vida é isso, desabafo contínuo. Nem que seja de você para você. Na rua, nas escolas, no cinema, na empresa, somos apenas grandes zeros. Infinitos.


Aprendi que não existe amor por cinema, existe amor à vida. Cinema é um reflexo da sua postura diante dos problemas do dia a dia. É o despimento pessoal de preconceitos bobos para, enfim, poder aceitar a diferença. Aceitar, aceitar, aceitar... Essa palavra ecoá na minha cabeça o tempo todo, me aceitar não é uma tarefa fácil, me ver como mais um também não. Não que eu me sinta melhor, pelo contrário, enfim, tentar justificar só vai piorar. Talvez seja a minha influência, assisti muitas comédias românticas e aprendi a ser clichê, assisti muito Chaplin e aprendi a fazer humor do drama e vice-versa.

Precisamos de algo que nos mova todos os dias, algo que torne nossa essência maior do que simplesmente "estar vivo".  Precisamos acreditar em Deus para seguir em frente, precisamos de um criador. Portanto eu digo, com todo o respeito do mundo, que o meu Deus se chama cinema. Não à sala lotada de gente comendo pipoca, não a loja do shopping, não o "Thor". A expressão. Cinema para mim se faz no exato momento que uma criatura, por amar o seu criador, compartilha pelo simples fato de ajudar. Se registrar isso, melhor ainda, mas existem inúmeros diretores nas ruas que me fazem me emocionar com tamanha capacidade de feder verdade. 

É isso, cinema é a verdade que existe em cada um. É o quanto eu posso, mesmo sendo humano e errando, olhar para alguém e poder admirar sua sinceridade. É ser amigo, seja colorido ou não, é querer bem e fazer o bem. 

É isso, cinema é a verdade que existe na maldade. A verdade no sexo. A verdade no gozo. A verdade no sorriso. A verdade da verdade.

Cinema é vida, amém.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Documentário: Homem/Mulher: Duas Histórias


Eu sempre gostei de documentários. Não aqueles produzidos na tv sobre o antigo egito. Esses não me atraem. Estou falando de documentários que capturam a realidade, registram o vento e extrai do ser o desabafo. Todos nós precisamos falar. Claro que isso ocorre em eventuais encontros com vizinhos, amigos etc. Mas quando e com quem podemos, de fato, nos abrir e contar nossos segredos/pensamentos mais ocultos?

É incrível a nossa limitação, e aqui me refiro a limitação da palavra. Vivemos em uma sociedade que priva a nossa opinião, tudo se tornou preconceituoso e os "tabus" são temas para intelectuais. Vários intelectuais falam sobre a violência contra a mulher, mas e a mulher? Quando ela fala? O ato de proibí-la de dizer o que pensa não seria, por si só, uma violência?

Não sei se eu me faço entender, mas as pessoas se preocupam muito em moldar as situações, conforme os interesses pessoais. E tudo se torna proibido ou um monstro de sete cabeças. Isso gera o medo, desinteresse e, se não bastasse, o próprio tabu.

O documentário chega para tentar eliminar a barreira do desconhecido. Muitos desconhecem o seu próprio direito de falar, de compartilhar. O sistema cria pessoas invisíveis e o documentário, quando bem realizado, dá a elas esperança. Isso está em tudo, na prostituição, na educação, nas ruas...

Muitos julgam a prostituição, mas quem se procura em ouvir o que uma prostituta tem para falar? Como no documentário "Whores' Glory" ou "Nascidos em Bordéis". E quantos entendedores falam sobre educação e, ironicamente, não deixam nem sequer uma criança dar a sua opinião. Como seria bom se todos tivessem voz. Como seria bom se nos colocássemos, também, a disposição para ouvir. Como é difícil ouvir, em tempos de fones de ouvido. 

Ångrarna


É incrível imaginar a quantidade de histórias que temos ao nosso redor. Há pessoas para todos os lados que vivem o mesmo dia que você, mas não a mesma vida. Inúmeros amores, traições, sexos, prazeres, beijos... tudo acontece nesse exato instante. Quantos primeiros beijos acontecem todos os dias, em? Histórias diferentes, levemente parecidas mas, acima de tudo, únicas.

Ora, podemos ser confortados apenas por saber que os problemas de outra pessoa são maiores do que os nossos. O legal é perceber essa conexão e o quanto ela é fragilizada. Sempre usei uma frase que vi no seriado "Heroes", dita pelo Nathan Petrelli: "todos precisamos ter os nossos segredos". Todos tem segredos, aqueles bem guardados. E quando ele envolve os sentimentos de outra pessoa? Ainda é um segredo digno de ser guardado ou, nesse caso, é invasão?

Esse é só o começo desse documentário sueco genial que eu assisti na Tv Escola. Dirigido pelo Marcus Lindeen, que estrutura uma ideia simplesmente sensacional - inclusive eu tirei um projeto de documentário da gaveta depois que assisti -, digo o formato mesmo. Duas pessoas trocam experiências um de frente para o outro. Um é Orlando Fagin e o outro é Mikael Johansson. Ambos são homens, trocaram de sexo e, depois de ter passado por alguns problemas, resolvem voltar a ser homens. Ou melhor, ter um pênis, como o próprio Mikael afirma, em dado momento.


Uma das coisas mais lindas que eu já vi na minha vida. O doc vai navegar por entre as indecisões e arrependimentos dos seus protagonistas, seres humanos. E digo seres humanos pois eles não são homem nem mulher. Nenhum momento fica claro isso, fazendo com que o espectador sinta exatamente o que está sendo narrado por, principalmente, Orlando Fagin. Ele, que fora casado por 11 anos, conseguiu enganar o marido todo esse tempo, levantava as 4 da manhã para fazer a barba e, assim, levou a vida, atuando. Um homem que deixa de ser para se tornar uma mulher, receber carinho e ser amada. Porém, banhado pela mentira. Com medo de não ser descoberto constantemente, ele se perde em meio a ele, até que a verdade é descoberta.

A reflexão que fica é: Se eu troquei de sexo deveria, então, me relacionar com mulheres? Ser lésbica? Porque não posso casar-me com um homem? Só que estamos falando de uma época diferente, pensamentos diferentes e, claro, da mentira. 

Orlando Fagin não teve voz para dizer a verdade. Não permitiram isso, resultando em uma tristeza profunda, tanto para ele quanto para o seu companheiro. É então que ele decide voltar a ser homem. Mikael Johansson, então, se confunde com essa história toda. Esclarece que Orlando não se parece com um homem, é então que ele ouve:

"Eu não sei quem eu sou"

O meu coração saltou pela boca com tamanha verdade daquelas palavras. A busca de um ser, não por um lugar - quanto a isso estou bem familiarizado - mas por uma identidade. Me faz pensar o quanto as pessoas enxergam a outra como posse - minha mulher, meu marido, MEU - e, sendo assim, nos tornamos objetos. Não mais homem ou mulher. Os 3 mil anos citados no documentário é hoje. Só há produtos de interesses. Somos inclassificáveis.

Não somos mulheres, nem homens, somos ambos.

Já que citei os "3 mil anos", é mencionado que daqui há algum tempo todos seremos um. Só haverá um gênero. A natureza encontrará um meio. Agora eu penso, a natureza ou o sentimento? Para mim aquelas duas pessoas representam os tais "3 mil anos". Elas/eles pularam a estrada da vida, se desprenderam da obrigação de se definir. São duas espécies perdidas, no meio a tantas que são personificação do óbvio.


Um pênis, definitivamente, não te faz ninguém. Tudo diz respeito ao seu sentimento e, claro, olhar. Aliás, o olhar de Orlando no final do doc, algo como se quisesse dizer "eu sei no que isso vai dar" ou "fique tranquilo", beira o inacreditável. Como o registro é poderoso. Histórias que seriam perdidas, se tornam eternas. Esse é um dos documentários que eu mais me identifiquei na vida. Me sinto mulher, me sinto homem, me sinto de passagem, me sinto sem nome nem lugar. Me sinto casado e só. Me sinto navegando em extremos. O segredo e a violação. A voz e o escutar. O sentimento e a ação. O olhar e... o olhar. Me sinto com vontade de me esconder um pouco, como o Mikael Johansson. Mas tenho vontade de me exibir como o Orlando Fagin. Eles são extremos, não se pode negar.

que preto, que branco, que índio o quê? 
que branco, que índio, que preto o quê? 
que índio, que preto, que branco o quê?

aqui somos mestiços mulatos 
cafuzos pardos mamelucos sararás
 crilouros guaranisseis e judárabes

somos o que somos 
inclassificáveis

- Inclassificáveis, Arnaldo Antunes

Obs: Para quem quiser assistir o documentário, ele está passando no canal Tv Escola. Aqui tem as próximas exibições. Se você não tem o canal na tv, eu acredito que tem como assistir online no site deles. Além disso, você pode baixar nesse link.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

#06- Assisti na Semana

O Cérebro Que Não Queria Morrer ( 1962 )


O jovem cirurgião Bill faz experiências secretas em seu laboratório, com o objetivo de conseguir sucesso no transplante de membros humanos, utilizando um soro especialmente desenvolvido para evitar a rejeição. Quando ocorre um grave acidente de carro que vitimou sua noiva Jan, ele consegue recuperar apenas sua cabeça dos escombros e decidiu mantê-la viva em seu laboratório, repousando-a numa bandeja com o soro. Agora, o desafio do cientista é encontrar um corpo de uma bela mulher, sem chamar a atenção da polícia, para tentar uma cirurgia de transplante na cabeça da noiva, que por sua vez não aceita a condição monstruosa em que se encontra.

Bebendo da fonte de grandes clássicos do cinema onde existe um cientista que, por eventualidade, resolve fazer uma experiência maluca com o corpo de outrem, "The Brain That Wouldn't Die" - por sinal um título deveras interessante - é um ótimo exemplo dessa safra de filmes. Realizado nos anos 60, ele adapta bem a sua história com o orçamento, claramente, "limitado". Algumas cenas se mostram extremamente forçadas, mas não deixa de ser interessante acompanhar o desespero de uma cabeça (?) 

Achei interessante a questão "manipulação da morte", é tanto que o filme começa com a frase "deixe-me morrer" e, de certa forma, termina com a mesma. Só que essas questões se perdem em enrolações desnecessárias, a realidade é que ele não se define muito. Espera nos últimos minutos para revelar certas coisas e, quando percebemos, já subiu os créditos. Por incrível que pareça, os melhores minutos são os iniciais, onde temos uma discussão entre pai e filho - ambos médicos - onde o paciente morre e o filho decide, então, aplicar os seus métodos, vangloriando-se que irá salvar o seu paciente. 


Nota: 2/5


Sim ou Não ( 2010 )


Primeiro filme com temática lésbica Tailandês. Pie é uma garota doce, que se muda para um novo dormitório no colégio, onde ela descobre que a sua nova colega de quarto Kim, é uma tomboy que se veste e parece com um garoto. No desenvolver da amizade, Pie e Kim começam a se perguntar se os seus sentimentos são mesmo somente de amizade, ou se são sentimentos de amor verdadeiro.

É impressionante a minha capacidade de chorar em 99,9% dos filmes de "romance docinho" asiáticos. Não sei, tem um ar de inocência que me faz bem, me entrego mesmo à esse clima. Aliás, como um ser dependente de histórias, eu uso muito no dia a dia essa inocência asiática, seja para criar histórias, escrever, ler etc. É engraçado, desde muito criança eu tenho um amor pela cultura deles, sempre os achei meio fechados, reservados. E quando comecei a assisti-los/senti-los através da sua arte, eu fiquei boquiaberto. Quanto coração para pouca demonstração, eu pensei. E foi assim, acho eu, que me identifiquei com esse cinema. Aqui em especial eu destaco os romances, aqueles que, assim como "Sim ou Não", não esperam ser obras primas, receber prêmios e etc. Pelo contrário, querem fazer você chorar. Fisgando, principalmente, os jovens. E como é bom perceber um carinho e dedicação em contar uma história sobre a descoberta sexual. Tema inédito para o cinema tailandês, por sinal.

Muito parecido com doramas, como no uso exagerado dos efeitos sonoros e alguns cortes, o filme constrói os personagens timidamente, se faz em base a própria descoberta. Ele se descobre agridoce, e principalmente se descobre importante na sua simplicidade. Analisando somente o filme, é óbvio que encontraremos inúmeros defeitos e enrolações, mas eu prefiro centrar na questão: Temos aqui um conteúdo bacana, sobre um tema bacana e estamos fazendo a nossa parte em passar adiante. Ponto. Se existe tantos fãs ao redor do mundo, que amam essas duas personagens, então tá feito. A mensagem chegou em quem deveria e, da maneira mais meiga possível, "Yes or No" se tornou mais um simbolo.



Nota: 4/5

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Um Estranho no Lago, 2013


" - O que você procura realmente?
- Temos de procurar por algo?"


Então, confesso que tive que passar por cima dos meus próprios preconceitos para assistir esse filme. E é complicado já começar escrevendo isso em um mundo onde qualquer palavra sobre determinados "temas" vira ofensa. Enfim, o filme agride, principalmente, em dois sentidos, ambos derivados da mesma coisa: A repetição.

Primeiro é a clara exposição do pênis, aquela naturalidade, como animais mesmo, o que seria absolutamente normal, tirando o fato de que, no filme, o diretor deixa claro que quer tirar qualquer sentimento existente entre esses homens, eles estão constantemente em busca do gozo, literalmente. Isso me chocou no início pois, ressaltando o que disse acima, eu sou uma das pessoas mais abertas que existe para o sentimento. Acredito fielmente que existe inúmeras formas de amar, e apoio que todos e qualquer seres humanos devem se assumir. ( deixando claro que essa afirmação vai muito além da opção sexual ).

Então se o filme tira o sentimento, essa é realmente a intenção e fica claro ao longo - logo mais eu explico - sobra, literalmente, o corpo. E, movido pela minha ignorância, não conseguia enxergar a real intenção do diretor.

O segundo ponto é uma extensão do corpo, o sexo. O sexo soa muito banal no filme, é isso que acontece: Homens ficam a margem do lago ( totalmente auto explicativo, a margem da sociedade ) e, quando conhecem alguém, sem qualquer envolvimento sentimental, eles caminham até o bosque e fazem sexo. E como tem sexo! Chupam por nada. E, repito, no início me pegou de surpresa, pois esperava sentimento.

Ao final pude perceber que meu instinto masculino me tirou a visão, estava tudo diante dos meus olhos, algo extremamente interessante essa experiência, aliás. É muito legal a forma que vemos o que eles veem, sentimos o que eles sentem ao longo, o filme caminha em direção ao próprio preconceito que existe acerca daqueles homens, a sociedade recrimina o sentimento entre eles e, é claro, sobra o desejo, o lago representa a sociedade, a praia é a situação que eles se encontram e o bosque surge, então, como o desejo.



Por isso, ao meu ver, o ponto realmente alto é a amizade entre o protagonista e Henri, um sujeito que se apresenta o tempo todo extremamente incomodado em estar naquele ambiente. Mas por qual razão ele continua voltando? O próprio afirma que, algumas vezes, não precisamos procurar nada, simplesmente fazemos. E ai diz tudo, ele está sentado na sua própria situação: a dúvida. Ele acaba de romper um relacionamento hétero, em meio à ele ele se envolvia com um homem, e está ali sentado refletindo sobre escolhas. Não se importa, então, com o corpo - leia-se pinto e bunda, assim, grosso mesmo, como o próprio filme se apresenta para aqueles que não se interessam em ver adiante - ele mesmo fala para Franck que se sente como se estivesse apaixonado, mas não pensa em sexo com ele. Esse personagem representa o sentimento desses homens.



O suspense final foi uma surpresa para mim, pois não tinha lido nada antes de assistir, e fico feliz por isso. Achei lindíssimo o investigador que, por ironia, surge repetidas vezes, chegando até a irritar quem assiste o filme. Em dado momento ele, em meio a sua investigação, afirma: Não estou lhe pedindo compaixão nem solidariedade. E é a prova de que, naquele lago, não há liberdade, pelo contrário, o medo está presente e todos, desde o punheteiro até o galã Michel - que diga-se de passagem tem o visual inspirado por atores pornôs da década de 70/80 -, enfim, no final pude perceber o quão sensível o filme é na sua insensibilidade.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Uma carta para Woody Allen


Pensando em escrever sobre Woody Allen, a única coisa que vinha na minha cabeça era que o Woody Allen jamais escreveria sobre um diretor. Sei lá, não entendi muito bem esse pensamento. Ou melhor, entendo muito bem. Woody Allen sempre foi o meu avô chato e ranzinza, aquele que tenta evitar mostrar muito sentimento, mas não se aguenta e se utiliza das letras para compor uma música. Música? Sim, adorável companheira. Pensando bem, tudo isso é fruto da letra. 

Woody Allen me ensinou a escrever. Desde meus treze aninhos me assusto com o meu processo de identificação com esse neurótico, amante, mulher, escravo sexual, fofinho... Sempre digo, aliás, que era para eu ser ele, se não fosse pelo fato de ser bonito de mais e morar no Vale do Paraíba. Engraçado esse processo, como pode? como acontece? Sério, os filmes dele me tiraram da tristeza, me fizeram sorrir em momentos escuros, momentos que olhei para esses óculos enormes e me senti acolhido. Acolhido por um intelectual, totalmente diferente de mim mas, ao mesmo tempo, igual. Ele me fez adorar obsessivamente as mulheres, ao ponto de saber muito sobre e ter uma dificuldade grande em dar certo com elas. Ele me fez querer buscar aquela que nunca conheci e, quando conhecer, verei que não é exatamente a mesma pessoa. Buscar o inalcançável, buscar o nada, simplesmente estar, fingindo ser indiferente e imparcial por fora, enquanto o seu ( nosso ) coração chora por desabafo. Dar a opinião é tudo que esse senhor ( meu avô ) faz. Ele é a opinião. Ele é um homem, e mesmo que pareça simples, como é difícil o ser hoje em dia. Mais ainda, como é complicado ser você mesmo. Como é complicado se relacionar e, mais complicado ainda, é tentar transmitir para o outro o quão difícil é para você, no mais pessoal da palavra, se relacionar. 

Nos relacionamos porque precisamos do outro. Precisamos nos dividir, nos imortalizar. O próprio Allen cita que "não quer se imortalizar com suas obras, e sim não morrendo", isso vovô, a vida é muito menos complicada do que teimamos em imaginar. A vida é o que é. Nós estamos, dividimos e morremos. Voltamos nas suas citações, no qual ele afirma que sua vida mudou depois que tomou conhecimento que a vida acaba. Enfim, à partir dai, a vida se torna, sim, complicada, se torna inumerável, inquestionável e apetitosa. Allen, Woody faz da vida, que outrora fora definida como solução, uma incógnita. Somos o que somos, indecifráveis. Não para ele, o homem na sua individualidade é decifrável quando o próprio se filma, se registra, sente e deixa ser sentido. O próprio divide, não mais com Mia Farrow ou Diane Keaton, mas com Annie Hall e Hannah e, claro, com o mundo. Mundo esse pequeno demais, para um artista tão grande. Os fãs do Woody sabem muito bem que ou gostam dele, ou odeiam. E tenho dito.


Tenho costume em não gostar muito desses intelectuais do cinema, que esbanjam chatice em alguns filmes, aqueles que se tornam muito particulares, não pela personalidade exposta no trabalho, mas pelo didatismo. Na minha humilde opinião a arte não necessita de regras e, portanto, não há regras para classificar o que é arte. Arte se torna, então, o olhar de cada um. Se Abbas KIarostami despertou no nosso interior que a mentira poderia, sim, ser uma arte ( vide close-up ) podemos atribuir o ser como um artista,  e aquela que seria sua maior obra é: a sua passagem.

Inspirar também não é uma regra mas, existem pessoas que se dedicam tanto que inspiram simplesmente por existir. Digo, então, que Woody Allen já me abraçou, beijou, me xingou, abriu meus olhos, me fez rir, me criou. Te devo, caro amigo, meu olhar, pois para mim você é o maior artista que já passou pela terra. Você é, para mim, espelho do indivíduo e suas ambições/fracassos. 

"Foi com você que eu tive a pior noite da minha vida" - Hannah e suas irmãs

Como é bom te sentir. Como é bom poder te amar. E é com lágrimas nos olhos que te digo, caro amigo, obrigado.


Ps: Abraços sinceros de um humilde menino que te tem como exemplo, seja isso bom ou ruim, e que se apegou tanto aos seus carinhos que não sabe se é uma cópia sua ou é tudo mera coincidência. Uma coisa eu tenho certeza, você me escolheu por algum motivo e, assim vamos levando com jeitinho, mais tarde te conto uns babados que anda rolando comigo. 
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