quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Don Jon ( 2013 )

 

O nosso silêncio fala muito. O mais engraçado de se pensar é que há uma diferença gritante entre o silêncio da mulher e do homem. A mulher espera, mesmo que não perceba, um príncipe encantado, por isso julga - em silêncio - as pequenas atitudes e, essas pequenas atitudes, podem tira-lo da ilusão da perfeição. Então, o príncipe se torna um sapo.

O silêncio do homem é, na maioria dos casos, relacionado ao visual. Uma mulher bonita enche nossos olhos de alegria e serve como inspiração por um tempo. Inspiração, eu digo, no sentido de comparação. Mas, após a perda inevitável, diante desse pensamento inicial, passamos a dar valor à um sorriso.

O que quero dizer é: Tanto o homem quanto a mulher começam procurando coisas muito diferentes. Por essa e outra razão, quase sempre um relacionamento só dá certo quando duas pessoas se encontram no meio das suas vidas. O que não necessariamente está relacionado a idade.


Don Jon é um filme especial. Em um mundo onde a "pornografia é para homens e comédias românticas são para mulheres" eis que surge um filme - dirigido por um cara que já nos presenteou com um outro ótimo filme de comédia romântica - desse gênero e que, ainda por cima, fala sobre o pornô.

O que é pornô?

Pornô é, hoje, pequenos vídeos espalhados pela internet, onde temos pessoas de diferentes culturas e físicos brincando de fazer sexo das mais inimagináveis formas possíveis. Outros seres humanos assistem esses vídeos. E, tem aqueles, principalmente jovens, que acreditam que o sexo é rápido, frio e individual. Assim como os tais vídeos citados.

Ou seja, há mais do que nunca homens olhando para o próprio pinto do que para o corpo da parceira. É estranho. É duvidoso. Mas real. 

Quantos de vocês conhecem pequenos aprendizes de homens que vão a academia para ficar bombado? Aqueles que pensam unicamente em tomar uma dose mágica de ilusão para ficarem com o corpo perfeito. E, depois, se não bastasse, expõe sua mais perfeita obra na net para inspirar novos aspirantes a homens.

Esses, hoje, são conhecidos como príncipes. Amanhã serão bexigas muxas. E qual foi o grande culpado disso? Acho que uma das maiores é a sociedade.


A Sociedade

A sociedade te cobra nascer. Te cobra estudo. Te cobra trabalho. Te cobra beleza. Te cobra namoro. Te cobra casamento. Te cobra filho. Te cobra netos. Te cobra a inutilidade. Te cobra a morte. Te cobra o esquecimento. 

Focarei, nesse texto, em três cobranças: Beleza, namoro e casamento.

Voltando ao filme...

Nesse ponto do texto você já percebeu que a tradução "Como não Perder Essa Mulher" é um dos mais ridículos possíveis. "Don Jon" não é uma comédia romântica. É um pornô. Ops, não, é uma comédia romântica mesmo, mas muito diferente.

Ele começa falando sobre a sua admiração por pornografia, sua facilidade em conquistar as mulheres, sua vida tranquila e seus pequenos prazeres - como limpar a casa, o que mais para frente desencadeará uma cena muito boa - e, misturados com cortes rápidos, somos obrigados a ver o seu dia a dia, com muita masturbação, mulher e balada. De primeira temos uma identificação muito grande com o personagem. Pelo simples fato de sermos homens. E homem assistem vídeos com frequência, se masturbam muito e pensam em mulher por boa parte do dia. 


A mulher assistindo "Don Jon"

Eu sou um admirador da mulher. Adoro diretores que dedicam todo seu trabalho para explorar o universo feminino, como a sua coragem, maturidade e amor. Dentre eles, cito dois mestres: Almodóvar e Woody Allen. Adoro um filme de mulherzinha. Inclusive tenho "Diário de uma Paixão" que já chorei inúmeras vezes assistindo. Sim, sou uma mulher. Assim como sou um homem também. Mas meu lado masculino pede licença as queridas mulheres que leem meu texto, pois raramente teremos novamente um filme tão mulher só para nós. 

Damas, com todo o respeito. Até a próxima. 

Voltando ao filme... parte 2

É então que, na balada, acontece um milagre. A Scarlett Johansson aparece. Envolta de um brilho evidente. O protagonista, inicialmente, quer levá-la para a cama. Mas acaba percebendo que ela é difícil e terá que haver algo mais entre os dois. Mas ela é mimada. Tira a possibilidade dele ser ele. E isso ninguém aguenta. 

Para aumentar ainda mais os problemas, ela descobre os vídeos pornôs e encara isso como uma traição. Usando como justificativa frases como "você é igual a todos", "isso é nojento". A menina, aprendiz de mulher, queria um príncipe, e percebeu que ele não existia, pelo menos não ali.


Entra em cena minha querida Julianne Moore, tenho que dizer que eu não sabia que ela estava no filme e fiquei muito feliz em ver ela, fiquei gritando de felicidade na minha mente, ela faz a mulher madura, que está cheia de perdas e quer justamente um homem que seja individual. Individual no sexo mas principalmente no gostar. 

Ela o ajuda, pois é isso que fazemos. Ajudamos as pessoas a se encontrarem, seja qual for o motivo de estar perdido. O sexo é mais uma justificativa que o ser humano tem para se sentir superior. O sexo virou uma medalha. O sexo se tornou uma cobrança da sociedade. O sexo virou só sexo.

Filmes pornôs transformam mulheres em maquinas de prazer. E homens em possuidores de um pau intimidador. Eu adoro assistir vídeos pornôs. Mas não os tenho como uma meta. Assim como cuido da minha saúde, mas não vejo o meu corpo como a única coisa que faria alguém gostar de mim. 


Enfim, há mais coisas do que o sexo. Tem uma coisa esquecida chamada amor. Não é clichê. Quer dizer, é clichê, mas a ideia central desse texto é falar sobre uma comédia romântica, então ser clichê é uma obrigação, mesmo que o próprio filme não o seja.

"Don Jon" começa com o homem e termina com o homem. E é interessante perceber a diferença entre os dois pontos. Diferença da visão dele sobre a mulher e sobre ele mesmo, enfim, nosso herói encontra o seu meio. 

Joseph Gordon Levitt e todo o seu carisma, meus parabéns. 

- Escrito por Emerson Teixeira Lima

Um aprendiz de ser humano que, no momento em que escrevia esse humilde texto, abria o X Vídeos. Emerson vive e usa o cinema como fonte de inspiração para o próximo dia. Faz do audiovisual o teu protetor para o medo recorrente de apenas existir. Emerson acha a Scarlett Johansson extremamente gostosa, assim como a Asa Akira. E acredita fielmente que sexo filmado também é arte.

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