sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O Garoto Selvagem

François Truffaut
Dificilmente eu uso a palavra “gênio” para classificar um ator ou diretor – talvez porque não exista muitos. O diretor François Truffaut é uma das raras exceções, quando tomamos conhecimento sobre a sua história e assistimos aos seus filmes, que possuem aquele glamour que só uma Nouvelle vague pode oferecer, fica fácil saber o porquê eu o considero assim.
Jules et Jim, sua obra mais aclamada, é um espetáculo de linguagem, diálogos incríveis, personagens inesquecíveis e complexos e cenas surpreendentes que fazem deste uma obra imortalizada nos corações de muitos cinéfilos ou admiradores de um bom conteúdo.

Criança selvagem


Uma criança selvagem são crianças que cresceram sem quase ou nenhum contato com humanos. Muitas vezes são criadas ou influenciada por animais, na maioria dos casos lobos, mas tem aquelas que sobrevivem sozinhas. O fato é que, sem o contato humano, as crianças não possuem caracteríscas que consideramos normais hoje em dia, o que faz a ciência, filosofia… Se interessar muito por esses inúmeros casos.
Esse tema é alvo de várias discussões interessantes sobre o nosso processo evolutivo e o quão o meio sustenta aquilo que você é – ou acredita ser. Uma das idéias mais interessantes, relacionado a essas questões, é de Jean-Jacques Rousseau e o seu maravilhoso livro chamado “Discurso Sobre a Origem e Fundamentos da Desigualdade Humana”, que vale muito ler para quem se interessar.


O Garoto Selvagem




Num dia de Verão do ano de 1798, numa floresta francesa, foi encontrada por caçadores uma criança selvagem. Levada para Paris, foi observada pelo mais célebre psiquiatra da época, Pinel, que a considerou como um idiota irrecuperável e pelo jovem médico Itard que, ao contrário, considerou ser possível recuperar o atraso provocado não por inferioridade congénita mas pelo seu isolamento total. Para provar a veracidade  das suas razões, Itard pediu a tutela desta criança. Assim, na sua casa em Batignoles, com a ajuda da sua governanta, Mme Guérin, iniciou a difícil tarefa de desenvolver as faculdades dos sentidos, intelectuais e afectivas de Victor, nome pelo qual se passou a chamar esta criança.

O Garoto Selvagem é de 1970, baseado em um livro que conta à experiência pessoal de Jean Itard e o seu processo de educar uma criança selvagem.
Começamos com uma camponesa colhendo bagas na floresta e ela leva um susto ao ver um animal estranho, por sua vez, acaba fugindo. Esse “animal” é, na verdade, um ser humano. Um menino que anda com as pés e mãos, algo semelhante a um gorila, por exemplo. Percebam que desde a primeira cena somos apresentados a uma atuação/exploração corporal do ator Jean-Pierre Cargol impressionante.
Os personagens e suas intenções, evoluções e afetividade são demonstrados de uma maneira que beira o documental, sem muitos diálogos inclusive, possibilitando assim, reflexões ao longo dos 83 minutos de filme. Talvez seja a obra mais direta de François Truffaut, que aqui assume a direção, roteiro e interpreta o professor Itard.
Algo parecido com Charles Darwin e suas preciosas anotações sobre o processo evolutivo, em “O Garoto Selvagem” é feito um estudo sobre um ser humano que fora banido da nossa sociedade atual, e com muito respeito à veracidade dos fatos, assistimos uma história que se desenvolve na medida certa e faz jus ao que se propõe.


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